Opiniões, Resenhas

Literatura| Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa| Opinião

Autor: Ungulani Ba ka Khosa

Editora: Alcance

Idioma: Português

Sinopse

Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, mambo (rei) de uma região à norte do rio Zambeze acaba de morrer. Durante o “choriro”, todos pretendem saber se o desejo de Nhabezi se irá concretizar: transformar-se em espírito de mpodoro, como acontece com todos os chefes da região.

Opinião:

O romance histórico, por natureza, faz uma reflexão acerca de uma realidade histórica entremeada com elementos ficcionais. As personagens ficcionais se misturam a personagens históricos “ficcionalizados” na estrutura da narrativa. Muitas vezes, tambem, o romance histórico questiona e problematiza a própria história.

Choriro é um exemplo deste tipo de obra. Ao retratar o passado, numa versão imaginada pelo autor, o livro não só contribui para a reconstrução da memória cultural, como também interpreta para o leitor, a experiência humana dessa época. A palavra Choriro significa dor, ou também, o período de três dias de luto, durante os quais o morto é preparado para a cerimónia de enterro.

Segundo Marcelo Panguana, que escreveu uma crítica sobre Choriro, no livro “conversas de fim do mundo”, antes da publicação de Choriro, alguns pormenores do livro, no entender do autor, ainda não o convenciam. “Considerava o título da obra estático, sem a agressividade e a capacidade de sedução pretendidos. O substantivo choriro remetia a um cenário calmo e apático que poderia desmobilizar a curiosidade de eventuais leitores”. Um bom título tem sempre a capacidade não só de atrair o leitor, mas também a de ajudá-lo a descobrir o livro, o que este título, acabou por fazer com mestria.

Com um rico nível de detalhe e extremo rigor na pesquisa, o autor ambientou este romance no Vale do Zambeze, mais precisamente em Tete e na Zambézia, no século XIX. A história centra-se em Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, ou como o mambo (rei) da região. Nhabezi é um invasor português que acaba por adaptar-se e apropriar-se dos costumes e tradições locais, tornando-se curandeiro, tendo várias mulheres e muitos filhos. Nhabezi, ou Gregódio, introduziu também novas práticas na região.

O livro faz incursões sobre figuras históricas, como David Livingston, explorador inglês, Kaniemba ou Matequenha, nomes de guerra de dois senhores de prazo, da época, e até Ignácio de Jesus Xavier, mais conhecido por Kalizamimba, figura cuja história foi abordada recentemente por Isabel Ferrão, no seu romance Kalizamibma.

Sendo um livro com diversas histórias secundárias muito interessantes, algumas ficaram por aprofundar. Queríamos ter conhecido com mais  detalhes a história de Nfuca, de João Alfai, da Dona Josefina e também dos luanes de Quelimane, os prazos da época, com uma estrutura diferente da dos descritos em Tete.

O autor constrói vários personagens no livro, uns mais cinzentos que outros, mas todos certamente com características únicas. Pela quantidade de dados a assimilar, e por reflectir o contexto de um importante período histórico, que certamente traz elementos que moldam o actual contexto, é um livro que deve ser lido sem pressa e com bastante atenção.

A nossa pontuação: 5 de 5 estrelas.

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