Lançamentos!, Opiniões, Resenhas

Literatura | Encontro em Rosebank, de Lex Mucache – Opinião

Autor: Lex Mucache

Editora: Fundza

Idioma: Português

Sinopse

“Quando Audrey e Nomssa ultrapassaram a distância que mantinham nos primeiros encontros, rompendo a barreira turva da indecisão – as suas conversas passaram para lá da simples vida académica. Puseram de lado o jargão escolar. Já falavam das suas próprias vidas aberta e intimamente. A amizade consolidava-se a olhos vistos”

Duas grandes amigas.

Um homem apaixonado.

E uma decisão que muda dois destinos.

Opinião

Encontro em Rosebank é o mais recente trabalho do autor Lex Mucache, publicado pela editora Fundza, cujo lançamento está previsto para o dia 28 de Fevereiro de 2023, na cidade de Maputo. A narrativa tem como foco uma história de amor, mas não só. O empreendedorismo, a amizade e o crescimento pessoal são explorados nesta deliciosa história onde um homem em busca de um sonho, acaba se reinventado e descobrindo as suas verdadeiras ambições pessoais.

Por um lado, temos a história de amizade entre as sul africanas Audrey e Nomssa e por outro, temos a trama do protagonista moçambicano Hermes. Fascinado desde sempre pela famosa académica e bloguista Nomssa G’qola, Hermes decide um dia viajar para a África do Sul, com o objectivo de participar numa palestra ministrada por Nomssa, na esperança de poder conhecer pessoalmente esta mulher que tanto admira à distância. Algum tempo depois, em meio a várias peripécias, Hermes e Nomssa iniciam um romance virtual. No decurso deste processo, Hermes acaba também criando outros novos vínculos que pesam no seu desenvolvimento pessoal. O autor impressiona pela criatividade ao elaborar uma trama tão dinâmica quanto surpreendente no caminho encetado pelos protagonistas.

Sobre o espaço que ambienta a narrativa de “Encontro em Rosebank”, o autor que tem uma forma peculiar de pintar as paisagens com as palavras, nos apresenta um bom retrato da vida académica e de alguns debates que visam explorar a importância da história dos heróis africanos. O autor apresenta também uma imagem viva da cidade de Maputo e de algumas cidades sul africanas, abordando o quotidiano, a rotina das pessoas que viajam entre os dois países vizinhos, incluindo o drama de quem exerce o comércio informal, também conhecido como “mukheru”, caraterizado pela travessia das fronteiras para África do Sul, onde os comerciantes compram bens para revender nos mercados de Maputo. A propósito disto, o núcleo composto por Kiwanga e a família desta, desenvolve um papel relevante na narrativa, evidenciado a importância do empreendedorismo na vida dos moçambicanos. É de forma que podemos dizer que personagens como Kiwanga e Hermes, nesta ficção, trazem-nos uma certa representação do povo moçambicano.

A escrita de Lex Mucache revela-se leve e concisa, com diálogos bem construídos, embora em alguns momentos certas descrições pareçam demoradas. É uma leitura rápida e prazerosa, auxiliada pelo lindo e excelente trabalho de diagramação feito pela editora Fundza.

Em resumo, Encontro em Rosebank é um bom livro para sorrirmos e que vale a pena ser lido, pela mensagem que nos traz sobre o amor, a amizade e o desafio de nos tornarmos e nos fazermos humanos melhores.

❝e o que era a juventude sem esperança?❞

Sobre o autor

Lex Mucache é pseudónimo de Heráclito Alexandre Mucache. Nasceu na cidade de Maputo no ano de 1980. É professor e desenvolve actividades de leitura e escrita criativa nas escolas primárias. Autor do livro de contos «Asas Decepadas» (Kulera, 2020), obra finalista do Prémio 10 de Novembro de 2019. Tem obra dispersa em vários jornais e revistas.

A nossa classificação: 4.8 de 5 estrelas

Resenhas

Convocatória de bolsas – residências artísticas

Caros Leitores e Escritores,

Foi recentemente divulgada uma nova convocatória de bolsas do Programa África MED – MAEC-AECID 2023-2024. Ao abrigo deste programa, existe a possibilidade da realização de residências artísticas com a bolsa de estágios (AFRICA-MED Prácticas). Não será necessário ter um título universitário, mas o requisito é identificar uma instituição espanhola de acolhimento. A Embaixada da Espanha em Maputo pode ajudar com o processo de identificação de instituições no âmbito do seu trabalho artístico.

O período de candidaturas é de 24 Janeiro a 10 Fevereiro de 2023.


Toda as informações disponíveis e respectivos documentos se encontram no site da agência espanhola AECID: 

https://www.aecid.gob.es/es/Paginas/DetalleProcedimiento.aspx?idp=466

A Embaixada convida ainda A participar da Videoconferência Webex – Sessão Informativa sobre as Bolsas PROGRAMA ÁFRICA MED 2023-2024 no dia 26 de Janeiro às 10 horas.

Link: 

https://mauc.webex.com/mauc/j.php?MTID=me4e47089659965a45ab7f8936a46b58d

Em caso de dúvidas, por favor contacte para consultas e mais informações através dos e-mails: becasmae@aecid.es (AECID) ou emb.maputo@maec.es (Embaixada).

Imagem: Residencia Literaria 1863.

Fonte: Nosdiario

Opiniões, Resenhas

Literatura| Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa| Opinião

Autor: Ungulani Ba ka Khosa

Editora: Alcance

Idioma: Português

Sinopse

Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, mambo (rei) de uma região à norte do rio Zambeze acaba de morrer. Durante o “choriro”, todos pretendem saber se o desejo de Nhabezi se irá concretizar: transformar-se em espírito de mpodoro, como acontece com todos os chefes da região.

Opinião:

O romance histórico, por natureza, faz uma reflexão acerca de uma realidade histórica entremeada com elementos ficcionais. As personagens ficcionais se misturam a personagens históricos “ficcionalizados” na estrutura da narrativa. Muitas vezes, tambem, o romance histórico questiona e problematiza a própria história.

Choriro é um exemplo deste tipo de obra. Ao retratar o passado, numa versão imaginada pelo autor, o livro não só contribui para a reconstrução da memória cultural, como também interpreta para o leitor, a experiência humana dessa época. A palavra Choriro significa dor, ou também, o período de três dias de luto, durante os quais o morto é preparado para a cerimónia de enterro.

Segundo Marcelo Panguana, que escreveu uma crítica sobre Choriro, no livro “conversas de fim do mundo”, antes da publicação de Choriro, alguns pormenores do livro, no entender do autor, ainda não o convenciam. “Considerava o título da obra estático, sem a agressividade e a capacidade de sedução pretendidos. O substantivo choriro remetia a um cenário calmo e apático que poderia desmobilizar a curiosidade de eventuais leitores”. Um bom título tem sempre a capacidade não só de atrair o leitor, mas também a de ajudá-lo a descobrir o livro, o que este título, acabou por fazer com mestria.

Com um rico nível de detalhe e extremo rigor na pesquisa, o autor ambientou este romance no Vale do Zambeze, mais precisamente em Tete e na Zambézia, no século XIX. A história centra-se em Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, ou como o mambo (rei) da região. Nhabezi é um invasor português que acaba por adaptar-se e apropriar-se dos costumes e tradições locais, tornando-se curandeiro, tendo várias mulheres e muitos filhos. Nhabezi, ou Gregódio, introduziu também novas práticas na região.

O livro faz incursões sobre figuras históricas, como David Livingston, explorador inglês, Kaniemba ou Matequenha, nomes de guerra de dois senhores de prazo, da época, e até Ignácio de Jesus Xavier, mais conhecido por Kalizamimba, figura cuja história foi abordada recentemente por Isabel Ferrão, no seu romance Kalizamibma.

Sendo um livro com diversas histórias secundárias muito interessantes, algumas ficaram por aprofundar. Queríamos ter conhecido com mais  detalhes a história de Nfuca, de João Alfai, da Dona Josefina e também dos luanes de Quelimane, os prazos da época, com uma estrutura diferente da dos descritos em Tete.

O autor constrói vários personagens no livro, uns mais cinzentos que outros, mas todos certamente com características únicas. Pela quantidade de dados a assimilar, e por reflectir o contexto de um importante período histórico, que certamente traz elementos que moldam o actual contexto, é um livro que deve ser lido sem pressa e com bastante atenção.

A nossa pontuação: 5 de 5 estrelas.

Resenhas

Textos da Antologia “Espíritos Quânticos” traduzidos para Eslovaco

Caros Leitores Terráqueos,

No dia 22 de Setembro de 2022, foi publicada a terceira edição da revista Verzia.

A revista Verzia publica na Eslováquia traduções de literatura contemporânea de todo o mundo e esta sua terceira edição é centrada na literatura fantástica/ficção especulativa escrita em português. A compilação das histórias esteve a cargo de Lucia Halová, Silvia Slaničková e Lenka Cinková.

Segundo Lucia Halová, que assina a nota editorial desta edição, encontrar ficção especulativa escrita em português foi uma aventura. As grandes livrarias online de Portugal e do Brasil oferecem principalmente livros deste género traduzidos e não obras produzidas localmente, razão pela qual foi extremamente difícil encontrá-los. Entretanto, na busca de obras portuguesas, Lenka Cinková foi ao terreno e pesquisou directamente nas livrarias em Lisboa, onde frequentemente perguntava se havia alguma obra local deste género. Descobriu assim, que não só estavam obras a ser publicadas, como várias conferências sobre ficção especulativa estavam a ser organizadas naquele país. A Verzia efectuou mais tarde, contacto com a editora portuguesa Divergência, especializada neste tipo de ficção.

A pesquisa da Verzia levou ainda a descoberta do movimento Afrofuturismo, um movimento abordado nesta edição por Waldson Sousa, escritor brasileiro e um dos principais expoentes da literatura afrofuturista no Brasil.

Por fim, a busca sobre a ficção especulativa nos países africanos de língua portuguesa, conduziu a Verzia ao Diário de Uma Qawwi e à chamada de publicação para a antologia Espíritos Quânticos: Uma Jornada por Histórias de África em Ficção Especulativa.

Para o Diário de Uma Qawwi, foi uma honra receber o contacto da Verzia. Durante o processo, o Diário de Uma Qawwi partilhou com a revista o conjunto de textos da antologia, dos quais, três foram seleccionados para a tradução e integração na edição da revista.

Desta forma, no seu todo, a terceira edição da Verzia engloba contos traduzidos de português para eslovaco, de autores de Portugal, Brasil e de Moçambique, incluindo, entre outros, os autores Julia Durand, Waldson Sousa, Nikelen Witter, Mia Couto, Suleiman Cassamo e Virgília Ferrão. Cada conto tem uma ilustração desenhada para a história e estas belíssimas ilustrações foram feitas pela talentosíssima artista eslovaca Kamila Kuricová.

Ilustração de Kamila Kuricová

Conto: “O dia em que Fabião foi engolido por uma caixa automática”, do escritor Suleiman Cassamo, traduzido por Jana Benková Marcelliová.

Os textos de cada país são acompanhados por artigos introdutórios sobre a ficção especulativa nesse país, sendo que o ensaio sobre a ficção especulativa produzida nos países africanos de língua portuguesa, foi escrito por José dos Remédios e traduzido por Zuzana Greksáková.

Por fim, a edição conta com uma secção de recomendações de tradutores tradicionais, onde o leitor pode saber não apenas sobre novos livros, como também sobre o processo da tradução destes textos.

Confira e compre a edição AQUI.

Outras maravilhas humanas, Resenhas

A Bright Flashlight Ahead: the New Narratives Programme (EN/PT)

By Virgília Ferrão, 30 August 2022

The ties between Africa and the United Kingdom are well known. Today, the two maintain cooperation strategies that redefine different narratives in various spheres: art, culture, and education. Indeed, the relevance of international relations and the role each individual plays in these relations are unquestionable.

What may be questionable, however, is how the complex singularities and contexts of each people are interpreted in the course of intercultural dialogues. As the popular saying goes, truth is in the eye of the beholder. In this case, what is truth? Are the African stories known in the UK those with which Africans related to? Are the narratives representative of the UK known in African countries?

These questions are thought-provokingly reflected in the British Council’s research, conducted through M&C Saatchi World Services for a five-year programme called New Narratives. The initiative aims to help update African and UK narratives, stimulating dialogue and promoting more beneficial collaborations between young people across both places.

In this opinion piece, I intend to assess to what extent the research from the British Council is effective for a “new narratives” programme. Particular focus goes to what has been designated as “Narrative Touchpoints”, which refer to the interaction of sources and the conditions that shape common narratives. Four have been identified:these are direct, bridging, mediated, and iconic touchpoints.

Direct touchpoints refer to experiences where young people come in contact with people from the other place. Bridging touchpoints, on the other hand,are platforms that involve people from both places. Examples include the English Football Premier League, with many leading players from African countries.Mediated narrative touchpoints, for its part, include actors, TV, advertising, and news media representations of one or the other. Some portrayals are positive in how they communicate another place, but other representations present a more trivial image.

Iconic narrative touchpoints are interesting in that they refer to individuals, places, and buildings that are identified with either the UK or countries of Africa. Examples include the British royal family and William Shakespeare (UK), as well as images of Nelson Mandela or Kilimanjaro (Africa).

British Council’s research indicates that the dominant narrative, from the perspective of young Africans, is that the UK embodies a diverse range of positive values, being seen as a world leader, academically or economically. At the same time, there is concern about racism and elitism.  From the perspective of young people from the UK, however, the African continent, as a whole, is imagined according to two extremes: idealized for the romantic view on landscape and wildlife, or demonized for corruption and poverty. Nuance is heavier on the African side of the imaginative pool, and more lacking from the British end of the view. Surely, more nuance would be expected in engaging a continent of well over fifty countries spread across three time zones and eight distinct geographical regions, indicating a problem.

The research highlights not only the above-mentioned narrative touchpoints but also narratives that young people from African countries and the UK would like the other to have access to, as well as what aspects of the narratives should be amplified and/or avoided. Interestingly, on the one hand, it is concluded that latent colonial and neo-colonial tropes, cultural appropriation, and the expression of fragility are to be avoided. On the other, influential voices and African diversity are aspects to be magnified. If this were to happen, in my view, there would be a positive impact on the dialogues between people and the development of nations, especially in African countries.

Still on the subject of diversity, inclusion and pluralism, I am of the opinion that new African voices need to be amplified and heard, particularly those we might consider the ‘minority’, for example Lusophones. Despite the language barrier, Lusophone African countries play a major role… role in art, culture, and education, shaping these relations. These countries are often left behind on some interactions that enhance the ties of African countries and UK. As such, translation initiatives from both, so that English audiences from UK and Africa can have access to Lusophone African creations and vice-versa is crucial. On that regard, Mozambique is one of the countries that has been providing great contributions. One example is the work by publisher Trinta Zero Nove, recognized through the Award for Literary Translation Initiative at the London Book Fair of 2021 and the PEN Translates Award (awarded to Sandra Tamele and Jethro Soutar), in 2022, for the translation to English of the book “Tchanaze, a donzela de Sena”, by Carlos Paradona. Initiatives for inclusion may also include foster opportunities for cultural and learning exchange.

Another aspect that can be attained from the methodology employed by the M&C Saatchi-produced research regards fundamental tools for real change in the current narratives. First, interaction and listening to individual voices, especially those of young people. While the role of government and institutions to steer the flywheel is essential in order to achieve desired outcomes, attention must be paid to people, as individuals, and their choices. Likewise, recognizing the multiple and complex realities of each country seems crucial. Understanding, for example, the good, bad, and, above all, the real features about each place – without falling into kneejerk pessimistic or unsupported optimistic theories – is fundamental to the effective implementation of a New Narratives programme. 

By highlighting the touchpoints that shape common narratives, the research makes the importance of dismantling stereotypes obvious. No birds of a feather. Stereotypical habits allow us to strike blows that jeopardize individual, as well as intrinsic inter-institutional relationships. Better opportunities can be achieved if people better understand the myriad cultural characteristics of theirs and other places. Young Africans and young people from the UK may feel that environments or places are against them, when in reality, it is just a matter of clashing views. By stressing this particularity, this long overdue programme shades a new light and view on how this relationship can be successfully built.

Speaking of opportunities, it cannot be ignored that an understanding of the narratives that construct African countries and the UK will lead to greater social inclusion. Such a concept relies on the pro-activity of states in addressing inequalities, however, it is also a complex concept because it encompasses many different realities. The research is a first, foundational step to facilitating understanding of the said differences.

As an author from a Lusophony African country, I am happy to see this research and programme, with the potential to foster dialogue and cooperation between my diverse continent and the UK. In this context, the big lessons to be retained are: rather than the complex realities about individual peoples and places being feared, they should serve for better engagement between peoples; It is time to say goodbye to stereotypes and prejudices. Strictly speaking, it is time for us to rediscover the truth through the eyes of those who are in countries of Africa and the UK.

To access the full report of the research click HERE or visit the link https://www.britishcouncil.org/society/new-narratives/insights/research

Uma brilhante lanterna à vista: o programa Novas Narrativas

Por Virgília Ferrão, 30 de Agosto de 2022

Os laços entre África e Reino Unido são sobejamente conhecidos. Actualmente, o continente e o país mantêm estratégias de cooperação que redefinem diferentes narrativas em várias esferas: arte, cultura e educação. De facto, a relevância das relações internacionais e o papel que cada indivíduo desempenha nessas mesmas relações é inquestionável.

O que pode ser questionável, contudo, é como as complexas singularidades e os contextos de cada povo são interpretados no decurso de diálogos interculturais. Como diz o ditado popular, a verdade está nos olhos de quem a vê. Neste caso, o que é a verdade? As histórias africanas conhecidas no Reino Unido são aquelas com as quais os africanos se identificam? Será que as narrativas representativas do Reino Unido são conhecidas nos países africanos?

Estas questões são reflectidas, de forma instigante, na pesquisa da British Council, por intermédio da M&S Saatchi World Services, para um programa de cinco anos, designado “Novas Narrativas”. A iniciativa visa contribuir para actualizar as narrativas africanas e do Reino Unido, estimulando o diálogo e promovendo colaborações mais benéficas entre os jovens dos dois lugares.

Nesta resenha, pretendo avaliar até que ponto a pesquisa da British Council é eficaz para o programa “Novas Narrativas”. O enfoque particular vai ao que foi designado “os pontos de contacto da narrativa”, que se referem à interacção das fontes e às condições que moldam as narrativas comuns. Foram identificados quatro pontos de contacto da narrativa: 1) directo, 2) ponte, 3) mediático e 4) icónico.

Os pontos de contacto directo referem-se a experiências em que os jovens entram em contacto com pessoas de outros lugares. Já as pontes, por outro lado, são plataformas que envolvem pessoas de ambos os lugares. Exemplos de pontes incluem a Liga de Futebol Inglesa, com muitos jogadores dos países africanos. Os pontos de contacto mediáticos, por sua vez, incluem actores, televisão ou publicidade e representações na midia de um ou outro. Algumas representações são positivas na forma como comunicam o outro o lugar, mas outras apresentam uma imagem mais trivial.

Os pontos de contacto icónicos são interessantes dado que referem-se a indivíduos, lugares ou edifícios que são identificados, quer com o Reino Unido, quer com a África. Exemplos incluem a família real britânica e William Shakespeare (Reino Unido), assim como Nelson Mandela ou o Kilimanjaro (África).

A pesquisa da British Council indica que a narrativa dominante, pela perspectiva dos jovens africanos, é que o Reino Unido encarna uma gama diversificada de valores positivos, sendo visto como líder mundial, em termos académicos ou económicos. Ao mesmo tempo, existe uma preocupação com o racismo e o elitismo.  Na perspectiva dos jovens do Reino Unido, entretanto, o continente africano, como todo, é imaginado de acordo com dois extremos: idealizado pelas visões românticas da natureza e da vida selvagem, ou demonizado pela corrupção e pobreza. As nuances é são mais pesadas do lado africano no campo da imaginação, e mais ausentes do ponto de vista do lado britânico. Certamente, esperava-se muito mais detalhes no envolvimento de um continente com mais de cinquenta países espalhados por três fusos horários e oito regiões geográficas distintas, o que indica um problema.

A pesquisa vai além ao destacar não só os pontos de contacto narrativos mas também as narrativas que os jovens de países africanos e do Reino Unido gostariam que o outro tivesse acesso, bem como que aspectos das narrativas deveriam ser amplificados e/ou evitados. Curiosamente, por um lado, conclui-se que as tropas coloniais latentes e neo-coloniais, a apropriação cultural e a expressão da fragilidade são para ser evitados. Por outro, as vozes influentes e a diversidade africana são aspectos por ampliar. Se isso acontecesse, haveria um impacto positivo nos diálogos entre os povos e no desenvolvimento das nações, especialmente nos países africanos.

Ainda sobre o tema da diversidade, inclusão e pluralismo, sou de opinião que as novas vozes africanas precisam de ser amplificadas e ouvidas, particularmente aquelas que poderíamos considerar a “minoria”, por exemplo, dos países lusófonos. Apesar da barreira linguística, os países da África lusófona desempenham um papel importante, na arte, cultura e educação, moldando estas relações. Estes países são frequentemente deixados para trás em algumas interacções que reforçam os laços dos países africanos e do Reino Unido. Como tal, as iniciativas de tradução de ambos, para que o público inglês do Reino Unido e de África possa ter acesso às criações africanas lusófonas e vice-versa, é crucial. A este respeito, Moçambique é um dos países que tem dado grandes contribuições. Um exemplo, é o trabalho da editora Trinta Zero Nove, reconhecida através do Prémio Excelência em Iniciativa de Tradução Literária na Feira do Livro de Londres em 2021, e do Prémio PEN Translates Award (atribuído à Sandra Tamele e a Jethro Soutar), em 2022, pela tradução para o inglês da obra “Tchanaze, a donzela de Sena”, de Carlos Paradona. As iniciativas de inclusão poderiam também incluir a promoção de oportunidades de intercâmbio cultural e de aprendizagem.

Outro aspecto que pode ser percebido a partir da metodologia empregada pela pesquisa da British Council é referente a ferramentas fundamentais para uma mudança real nas narrativas actuais. Primeiro, a interacção e a escuta de vozes individuais, especialmente dos jovens. Embora seja essencial o papel do Governo e das instituições para orientar o volante, de modo a atingir-se os resultados desejados, deve ser dada atenção às pessoas, como indivíduos, e às suas escolhas. Da mesma forma, o reconhecimento das realidades múltiplas e complexas sobre cada país parece crucial. Compreender, por exemplo, as características boas, más e, sobretudo, as reais sobre cada lugar – sem cair em precipitadas teorias pessimistas ou optimistas sem suporte – é fundamental para a implementação eficaz do programa “Novas Narrativas”.  

Ao destacar os pontos que moldam as narrativas comuns, a pesquisa torna óbvia a importância do desmantelamento de estereótipos óbvios. Não se é farinha do mesmo saco. Os hábitos estereotipados permitem-nos golpes que põem em risco as rotinas diárias individuais e as relações mais intrínsecas interinstitucionais. Melhores oportunidades podem ser alcançadas se as pessoas compreenderem melhor as características culturais dos locais onde se inserem. Os jovens africanos e os jovens do Reino Unido podem sentir que os ambientes ou os lugares estão contra eles, quando, na realidade, é apenas uma questão de mistura de génios e de visões do mundo. O destacamento desta particularidade é um excelente diferencial para o sucesso do programa.

Por falar em oportunidades, não se pode ignorar que uma compreensão das narrativas que constroem os países africanos e o Reino Unido conduzirá a uma inclusão social. Este conceito assenta na pró-actividade dos Estados na abordagem das desigualdades, no entanto, é também um conceito complexo porque engloba muitas realidades diferentes. A investigação facilita a compreensão das diferenças.

Como jovem autora de um país africano lusófono, estou feliz por ver esta pesquisa e este programa com potencial para fomentar o diálogo e a cooperação entre o meu continente e o Reino Unido. Neste contexto, as grandes lições a serem retidas são: ao invés de as realidades complexas sobre cada um dos povos e lugares serem temidas, devem servir para um melhor engajamento entre os povos; as vozes que podem moldar as novas narrativas devem ser ampliadas e as suas ideias podem contribuir para diferentes políticas em ambos lugares. É tempo de dizer adeus aos estereótipos e aos preconceitos. Em bom rigor, é tempo de redescobrirmos a verdade pelos olhos de quem está nos países de África e do Reino Unido.

Para conhecer o relatório da pesquisa na íntegra, clique AQUI ou visite o link https://www.britishcouncil.org/society/new-narratives/insights/research

Resenhas

Oitentanoventa: entrevista com Marcelo Panguana

As conversas da iniciativa OitentaNoventa estão de volta!

Nesta sessão (12 de Maio de 2022), Álvaro Taruma, poeta, senta-se, para, numa conversa informal conversar com Marcelo Panguana, escritor, jornalista, cronista, crítico literário, autor de livros como “Como um louco ao fim da tarde” (2010) ou “Conversas do fim do mundo” (2012). Nesta conversa, Panguana fala sobre o seu medo em escrever poesia, sobre o que o move a acreditar na literatura e o que ainda há por publicar.

Marcelo Panguana nasceu, em Maputo, em 1951. É escritor, jornalista, cronista e crítico literário. Publicou dentre várias obras “As Vozes que Falam de Verdade” (1987), “A Balada dos Deuses” (1991), “O Chão das Coisas” (2004), “Como um louco ao fim da tarde” (2010) e “Conversas do fim do mundo” (2012). Foi agraciado com o Prémio FUNDAC Rui de Noronha com a obra “Como um louco ao fim da tarde”.

Sobre o entrevistador:

Álvaro Fausto Taruma, poeta, nasceu em Maputo. Publicou “Animais do Ocaso (Editora Exclamação, 2021), “Matéria Para Um Grito” (Cavalo do Mar, 2018) e “Para uma Cartografia da Noite” (Literatas, 2014). Com “Matéria Para Um Grito” foi galardoado com o prémio BCI de Literatura 2019. Para António Cabrita, Taruma, que é formado em Sociologia e Antropologia pela Universidade Pedagógica em Maputo, é um dos nomes cimeiros da actual poesia moçambicana.

ACOMPANHE a conversa AQUI

Lançamentos!, Livros, Resenhas

Lançamentos: 12 sugestões para este Natal (em prosa e poesia)

Com o natal ao virar da esquina, vale a pena recordar que o livro é sempre um dos melhores presentes. Os livros estimulam a nossa imaginação e às vezes transformam as nossas vidas. Ao oferecermos um livro, acabamos também, por de certa forma, subscrever uma escolha para o leitor, uma escolha que de outra forma pode ser difícil, perante tantos livros e propostas disponíveis no mercado.

E por falar em tantos livros, em Moçambique os últimos meses foram repletos de novidades e lançamentos!

Preparámos a lista abaixo, contendo alguns livros novos, como sugestão para este Natal. Confira:

Prosa

  1. As Raízes do Rei, de Susana Machamale

Foi lançado no dia 9 de Dezembro de 2021, em Maputo, “As Raízes do Rei”, livro de estreia de Suzana Machamale. Este é o primeiro volume de uma tetralogia chamada “Príncipes Sangrentos”.

Durante o lançamento, a autora relatou o processo de publicação do livro, tendo dito que no início não acreditava ser possível a publicação em Moçambique deste seu primeiro trabalho, inclusive pela temática que aborda. Com mais de 290 páginas, o livro sai pela chancela da Kulera Editores.

Eis uma breve passagem da sinopse: “Dois reinos, quatro cabeças, mas apenas duas coroas. O carismático Ânjor e a ambiciosa Hanjy Karavejo são filhos da rainha de Taravin. mas, por serem gémeos, só pelo voto do povo pode-se definir qual dos dois será o primeiro na linha de sucessão ao trono. A angelical Yasy e a perversa Yagui Dantaze são filhas do reu Nunny.

Segundo o apresentador da obra, o professor Daúde Amade, “o livro retrata uma história de membros da mesma família que disputam a sucessão ao trono, chegando, até, a odiar-se. Entre os irmãos que disputam o trono e os reinos que se opõem pelo poder, forjam-se falsos sorrisos, traições, mortes e muito sangue mancha a história de uma família que, caso fosse possível, daria tudo pela permanência de um passado sossegado e sem conflitos”.

2. Gole de Lâminas, de Alberto Dalela

Fonte de imagem: Vymaps

Foi lançado no dia 24 de Novembro de 2021, “Gole de Lâminas”, livro de estreia de Albert Dalela, chancelado pela Ethale Publishers. Segundo a nota do blog Mbenga, esta é uma proposta que consiste em apresentar o sub-mundo da cidade de Maputo, ou seja, reflectir em torno da complexidade de conceitos e ideias da questão de ser e estar nas zonas suburbanas e na cidade.

3. O Abismo aos Pés, de Elton Pila e Eduardo Quive (organizadores)

Fonte de imagem: Amazon

Este livro, chancelado pela Editora Literatas, foi publicado em finais de 2020, tendo sido em Novembro de 2021 apresentado no Instituto de Camões, em Maputo, numa conversa com os organizadores, Elton Pila e Eduardo Quive. Contendo 232 páginas em entrevistas efectuadas a 25 escritores lusófonos, “O Abismo aos Pés” reflecte sobre a iminência do fim do mundo e oferece uma das leituras mais instigantes e inquietantes de todos os tempos.

4. No Verso da Cicatriz, de Bento Baloi

Fonte de imagem: Almedina

Um dos livros mais interessantes publicados este ano é sem dúvida “No Verso da Cicatriz”, romance que narra a história de Bernardo (e sua Helena). A trama é ambientada nos primeiros anos após a independência de Moçambique, iniciando com o protagonista Bernardo sendo afastado da amada, pelo Governo, que o leva de Maguaza (sua zona de origem) a Carico, sob a falsa acusação de ser uma Testemunha de Jeová.

Conforme se lê numa matéria da RFI, para além do conflito armado, Bento Baloi também aborda a operação durante a qual, nos anos 80, milhares de pessoas se viram forçadas a ir trabalhar em meio rural, longe das suas zonas de origem.”

O livro foi lançado em Agosto de 2021, simultaneamente em Moçambique e em Portugal, pela Editora Índico e pela Alêtheia Editores, respectivamente.

5. Histórias do outro mundo, de Carlos dos Santos

Fonte da imagem: Alcance

Nós do Diário de Uma Qawwi, amantes da ficção especulativa, não poderíamos, obviamente, deixar de mencionar o novo livro de Carlos dos Santos. Editado pela Alcance Editores e com cerca de 112 páginas, o livro reúne oito contos nos géneros ficção científica e fantástico, acompanhados de belíssimas ilustrações. Imperdível!

6. Sina de Aruanda, de Virgília Ferrão

Por último, no género da prosa, fazemos menção, com muita alegria, à “Sina de Aruanda”, romance lançado no dia 8 de Dezembro de 2021, terceiro obra da administradora do Diário de Uma Qawwi. Num dos momentos mais marcantes da cerimónia, o apresentador do livro, o professor Albino Macuácua, mencionou que Sina de Aruanda “é um romance sobre a vida – e quem diz vida também diz morte, a maior sina do ser humano –, por outras palavras, este romance é uma prerrogativa para reflectirmos sobre a vida e seu lado místico, ancorado nos princípios correlacionais entre o espírito e a matéria, muitas vezes absorvidos pelo mundo corpóreo, o mundo das coisas ou, como diria Edmund Husserl, o mundo dos fenómenos, mas A Sina de Aruanda é igualmente um romance de resgate de memórias, um romance de amor, do “verdadeiro” amor, aquele que resiste ao tempo e à morte.”

O livro sai pela chancela da Fundação Fernando Leite Couto em Maputo, e será publicado em 2022 pela Editora Malé, do Brasil.

Poesia

7. O Lugar das Ilhas

“O Lugar das Ilhas” é o novo livro da poeta Sónia Sultuane.

Sobre a obra, o apresentador do livro, o professor de literatura Nataniel Ngomane, explicou que as ilhas retratadas no novo livro de Sónia Sultuane não são necessariamente geográficas (Ilha de Moçambique, Cuba e as ilhas da Grécia), são ilhas que existem na forma de pensar humana”. In OPais

8. O Escutador de Silêncios, de Ricardo Santos

Também foi lançado recentemente um livro de poesia, de Ricardo Santos.

Os textos em “O Escutador de Silêncios” foram escritos na sua quase totalidade entre 2016 e 2019. Sobre esta obra, diz-nos o escritor Leo Cote, que “o prosaismo que esta poesia reflecte e sugere, resulta da vontade de contar histórias, muito ao jeito da tradição oral, e de construir um discurso que seja a ficção do hodierno e do simples, atingindo o natural e o espontâneo. Não é por acaso que o poema “Ânfora” faz alusão a isso.” In Mbenga.

9. Para Enxugar as Nódoas dos Meus Olhos, de Énia Lipanga

Este livro foi lançado no dia 12 de Novembro de 2021 e é a segunda obra de poemas de Énia Lipanga.

Segundo a Editora que chancela a obra, a Gala Gala Edições, “as vozes deste livro são femininas, ora inteiras, ora nada, ora em pedaços, para cantar os seus gozos e alegrias, e também as suas feridas e cicatrizes. “Talvez, por isso, chovam gotas íntimas em seus versos que escorrem fios e fiapos de prazer e, quiçá, de amor, travestidos de incertezas, poeiras, nuvens, sombras e desejos que incitam dores, emoções, saudades, menos regressos e mais recomeços”, escreve a professora Ana Rita Santiago.” In Gala Gala Edições

10. Calvário e a Cruz, de Jeconias Mocumbe

Recentemente lançado, em edição do autor, o livro de Jeconias Mocumbe (pseudónimo de Edilson Sostino Mocumbe) é uma antologia de poemas. Segundo Elísio Miambo, o apresentador do livro, a obra “apresenta-se como um exercício de exploração dos limites da metáfora, havendo, nesse processo, momentos em que ela própria (a metáfora) são lhe apresentados os seus vícios enquanto forma de codificação discursiva. De facto: se por um lado existem livros que tomam o leitor como imbecil a ponto de fornecerem informação desnecessária e que se resvala pela prolixidez, por outro, livros há que ou sobrevalorizam o leitor ou o seu autor não liga a mínima para uma possibilidade de haver alguma interatividade entre o leitor e a obra, correndo assim o risco de se tornarem incompreensíveis.”

Prosa em Infanto Juvenil

11. A Estranha Metamorfose de Thandi

Lançado no dia 24 de Novembro de 2021, o novo livro de Mauro Brito apresenta o conto “A estranha metamorfose de Thandi”, e é ilustrado pelo artista plástico Samuel Djive.

José dos Remédios, no OPais, descreve-o como “uma história de amor entre mãe e filha, Mbali e Thandi, personagens agrestes que constantemente enunciam lições universais, atinentes às circunstâncias domésticas e até mesmo comunitárias.”

A estranha metamorfose de Thandi levar-nos-á pelos meandros do interdito, do destino e da libertação, numa linguagem onde a narrativa e a poesia, o real e o imaginário, o presente e o passado se cruzam num espaço sem fronteiras distintas.

12. As Aventuras de Manuelito, de João Baptista Caetano Gomes

Esta foi uma das obras vencedoras do concurso Literário “Nó de Gaveta”, promovido pela Associação cultural Nkariganarte, em parceria com a Kuvaninga cartão d’arte. João Baptista venceu pela zona centro de Moçambique, ao lado de Cleyde Pamela (com o texto “O Sonho de Chinguana”) e Laliana Mahumane (com o texto “O outro lado das flores”), das zonas Norte e Sul, respectivamente. O autor participou da antologia Memórias do Idai, uma colecção de crónicas literárias que resultou de um concurso promovido pela Editora Fundza. Participa em antologias nacionais e internacionais. Em 2021, seu texto “Os vendedores de sol e lua” foi um dos 12 selecionados para a Oficina de Ficção Narrativa organizado pela Fundação Fernando Leite Couto. Tem escrito prefácios de livros e tem apresentado obras literárias de alguns escritores emergentes da Literatura Moçambicana.

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Resenhas

Oitentanoventa: entrevista com Suleiman Cassamo

Foi ao ar ontem, dia 3 de Dezembro de 2021, a segunda sessão OITENTANOVENTA.

A OitentaNoventa é uma iniciativa focada na conexão intergeracional, que coloca as novas vozes literárias (escritores, poetas e críticos de arte) diante dos seus autores preferidos, para conversar sobre a escrita, os livros e a vida.

Nesta sessão, Mélio Tinga e Fernando Absalão conversaram com Suleiman Cassamo.

Suleiman Cassamo nasceu em 2 de Novembro de 1962 no distrito de Marracuene, província de Maputo.Em 1994 O REGRESSO DO MORTO foi apontado pela UNESCO como “obra representativa no património literário universal”. No mesmo ano, com o conto “O Caminho de Pháti”, foi vencedor do Prémio Guimarães Rosa, da RFI, União Latina e Casa das Américas em Paris num concurso aberto a contistas de língua portuguesa; com a A CARTA DA MBONGA, foi vencedor em 2015 do Grande Prémio Sonangol de Literatura, para autores dos países africanos de língua portuguesa e em 2017, do Prémio BCI de Literatura. Nesse mesmo ano, recebeu do Ministério da Cultura do governo de Moçambique o Diploma de Honra em reconhecimento ao seu contributo na promoção e desenvolvimento da Literatura Moçambicana.

ACOMPANHE a conversa AQUI

Livros, Opiniões, Resenhas

Literatura| An American Marriage (Um Casamento Americano), de Tayari Jones | Opinião

Autor: Tayari Jones

Editora: Algoquin Books

Idioma: Inglês

Sinopse

Os recém-casados ​​Celestial e Roy, são o protótipo do sonho americano. Ele é um jovem executivo e ela uma artista na fase inicial de uma carreira empolgante. Mas à medida que se estabelecem na rotina da vida a dois, eles são dilacerados por circunstâncias que nenhum dos dois poderia ter imaginado.

Roy é preso e condenado a 12 anos, por um crime que Celestial sabe que ele não cometeu. Apesar de ser uma mulher forte e independente, Celestial se vê desolada e desamparada, consolando-se com André, seu amigo de infância e padrinho de casamento. O tempo de Roy na prisão vai passando, e Celestial é incapaz de manter o amor que sempre foi o seu centro. Porém, ao final de 5 de anos, a pena de Roy é subitamente revertida e ele volta para Atlanta, pronto para retomar a sua vida ao lado de Celestial.

Opinião:

A história intercala a narração dos protagonistas, nomeadamente Celestial, Roy e André, uma técnica que empresta uma dinâmica bastante interessante à narrativa, e que acaba por ser efectiva. Foi uma boa decisão da autora mostrar os diferentes pontos de vista dos personagens, pois sem a persepctiva de Celestial, o leitor estaria mais propenso a criar certa animosidade ou até mesmo a ter uma recepção negativa para com esta personagem.

An American Marriage, apresenta-nos uma trama honesta e impactante, escrita de forma belíssima, não apenas sobre a realidade do sistema social e político da região em que se desenrola, mas também dos valores matrimoniais, expostos à condição essencialmente humana. Com o marido na prisão, Celestial, que não esperava ver-se tão cedo sozinha, acaba por envolver-se com André, seu amigo de infância. Mas Roy, inocente, ao ser libertado, deseja regressar à vida de casado com Celestial, formando-se aqui um triangulo amoroso complicado e doloroso. Somos levados assim, a reflectir, sobre até que ponto conseguimos cumprir as promessas consideradas sagradas e até mesmo inquebráveis.

Um história, em última análise, melancólica, sobre como uma injustiça social pode abalar a vida pessoal, e sobre como dinâmicas inesperadas podem sobrepor-se aos votos matrimoniais.

A capa do livro é extremamente elegante e dialoga com o tema do romance.

Um leitura recomendável.

A nossa pontuação: 4.5 de 5 estrelas.

Sobre a autora:

Tayari Jones é autora de quatro romances, mais recentemente “An American Marriage”, que foi eleito para a Selecção do Clube de Livros da Oprah 2018, e ganhou o Prêmio Feminino de Ficção de 2019. Jones é graduada pelo Colégio de Spelman, pela Universidade de Lowa e pela Universidade do Estado de Arizona.

Literature| An American Marriage, by Tayari Jones | Opinion

Author: Tayari Jones

Publisher: Algoquin Books

Language: English

Synopsis

The newlyweds Celestial and Roy are the embedment of both the American dream and the New South. He is a young executive, and she is an artist in the brick of an exciting career. But as they settle into the routine of their life together, they are ripped apart by circumstances neither of them could have imagined.

Roy is arrested and sentenced to 12 years for a crime Celestial knows he didn’t commit. Despite being a strong and independent woman, Celestial finds herself bereft and unmoored, taking Comfort in Andre, her childhood friend and best man at their wedding. As Roy’s time in prison passes, she is unable to maintain the love that has always been her center. However, after 5 years, Roy’s conviction is suddenly overturned and he returns to Atlanta, ready to resume his life with Celestial.

Opinion:

The story combines the narration of the protagonists, namely Celestial, Roy and André, a technique that lends a very interesting dynamic to the narrative, and which ends up being very effective. It was a good decision of the author, to show the different points of view, without Celestial’s perspective, the reader could find himself leaning to a certain animosity or even negative reception by towards this character.

An American Marriage presents us with an honest and impressive plot, beautifully written, not only about the reality of the social and political system of the region in which it takes place, but also about matrimonial values, exposed to the essentially human condition. With her husband in prison, Celestial, who did not expect to find herself alone so soon, ends up getting involved with André, her childhood friend. But Roy, innocent, on being freed, wants to return to his life with Celestial, forming here a complicated and painful love triangle. We are thus led to reflect on the extent to which we are able to fulfill the promises considered sacred and even unbreakable.

Ultimately, a melancholy story of how social injustice can undermine personal life, and how unexpected dynamics can overwhelm marriage vows.

The book cover is extremely elegant and dialogues well with the theme of the novel.

A recommendable read.

Our score: 4.5 out of 5 stars.

About the author:

Tayari Jones is the author of four novels, most recently “An American Marriage,” which was a 2018 Oprah’s Book Club Selection, and won the 2019 Women’s Prize for Fiction. Jones is a graduate of Spelman College, the University of Lowa and Arizona State University.

Cinema (Filmes / Séries), Opiniões, Resenhas

Cinema| You’ve got this (Ahi te encargo)| Opinião (Review)

Título: You got this (Ahi te encargo)

Direcção: Salvador Espinosa

Género: drama; comédia; família

Elenco: Maurício Ochmann; Esmeralda Pimentel

Ano: 2020

Imagem Fonte: Hagertjourn

Sinopse

Alex, um criativo publicitário quer ser pai a todo o custo, mas a sua mulher é uma advogada no topo da carreira, e ser mãe não faz parte dos seus planos. Um convidado inesperado irá desafiar o amor do casal.

Opinião

“You got this”, ou título original em espanhol, “Ahi te encargo”, é uma comédia mexicana, de 2020, sobre um casal feliz, que entretanto, tem sonhos e filosofias diferentes. É curioso que, muitas comédias recentes da América Latina (como por exemplo o filme “One Small Problem”), têm trazido este debate, com a tendência em inverter os papeis, onde a mulher, no auge da carreira, ou simplesmente por escolha natural, não deseja ter filhos. Por alguma razão, a Netflix está a apostar nestes roteiros, obviamente com uma audiência específica. Se calhar, em jeito de comédia, para mostrar uma realidade presente e mais verdadeira do que se pensa?

Alejandro e Cecília, protagonistas da trama, encarnam um casal regular, com algumas características dos típicos personagens deste tipo de comédias, mas também, com uma postura mais séria, que debatem as suas diferenças. Cecília sempre deixou claro que não deseja ter filhos, facto que, a dada altura, entra em choque com o desejo de Alejandro, que quer ardentemente ser pai. O filme tem alguns bons momentos, mas não é tão memorável, nem eficiente no quesito a que se propõe. Entretanto, houve o cuidado de trazer essa discussão complicada, sem retratar um outro género de forma negativa, pelas suas escolhas. Vale, também, pela representação do empoderamento da mulher, da queda do machismo e pela mensagem sobre os valores que valem num relacionamento (o diálogo e compromisso).

Filme de Domingo, que vale a pena ver se você estiver interessado no tema, mas não necessariamente uma forte comédia.

A nossa pontuação:

3 de 5 estrelas

Confira o trailer no link mais abaixo:

ENGLSIH VERSION

Plot:

Alex, na advertsing creative wants to be a father at all costs, but his wife is a lawyer on the top of her career, and being a mother is not part of her plans. An unexpected guest will challenge the couple’s love.

Opinion

“You got this,” or its original Spanish title, “Ahi te encargo,” is a 2020 Mexican comedy about a happy couple who, in the meantime, have different dreams and philosophies. Interestingly, many recent Latin American comedies (such as the film “One Small Problem”), have brought this debate, with the tendency to reverse the roles, where the woman, in the top her career, or simply by natural choice, does not wish to have children. For some reason, Netflix is betting on these scripts, obviously with a specific target. Maybe, in a way, to show a reality that is present and truer than we think?

Alejandro and Cecilia, the plot’s protagonists, embody a regular couple, with some features of typical characters of this type of comedies, but also, with a more serious stance, who debate their differences. Cecilia has always made it clear that she does not wish to have children, a fact that at a certain point clashes with Alejandro’s desire, who ardently wants to be a father. The film has some good moments, but it is not that memorable, nor is it efficient in what it sets out to do. However, care was taken to bring up this complicated discussion without portraying one or another gender in a negative light, for their choices. It is also worth it for the representation of women’s empowerment, the fall of chauvinism, and for the message about the values that count in a relationship (dialogue and commitment).

Sunday movie, worth seeing if you are interested in the topic, but not necessarily a strong comedy.

Our score:

3 out of 5 stars

Check the trailer here:

https://m.imdb.com/video/vi4088054041?playlistId=tt13118012&ref_=tt_ov_vi