Lançamentos!, Opiniões, Resenhas

Literatura | Encontro em Rosebank, de Lex Mucache – Opinião

Autor: Lex Mucache

Editora: Fundza

Idioma: Português

Sinopse

“Quando Audrey e Nomssa ultrapassaram a distância que mantinham nos primeiros encontros, rompendo a barreira turva da indecisão – as suas conversas passaram para lá da simples vida académica. Puseram de lado o jargão escolar. Já falavam das suas próprias vidas aberta e intimamente. A amizade consolidava-se a olhos vistos”

Duas grandes amigas.

Um homem apaixonado.

E uma decisão que muda dois destinos.

Opinião

Encontro em Rosebank é o mais recente trabalho do autor Lex Mucache, publicado pela editora Fundza, cujo lançamento está previsto para o dia 28 de Fevereiro de 2023, na cidade de Maputo. A narrativa tem como foco uma história de amor, mas não só. O empreendedorismo, a amizade e o crescimento pessoal são explorados nesta deliciosa história onde um homem em busca de um sonho, acaba se reinventado e descobrindo as suas verdadeiras ambições pessoais.

Por um lado, temos a história de amizade entre as sul africanas Audrey e Nomssa e por outro, temos a trama do protagonista moçambicano Hermes. Fascinado desde sempre pela famosa académica e bloguista Nomssa G’qola, Hermes decide um dia viajar para a África do Sul, com o objectivo de participar numa palestra ministrada por Nomssa, na esperança de poder conhecer pessoalmente esta mulher que tanto admira à distância. Algum tempo depois, em meio a várias peripécias, Hermes e Nomssa iniciam um romance virtual. No decurso deste processo, Hermes acaba também criando outros novos vínculos que pesam no seu desenvolvimento pessoal. O autor impressiona pela criatividade ao elaborar uma trama tão dinâmica quanto surpreendente no caminho encetado pelos protagonistas.

Sobre o espaço que ambienta a narrativa de “Encontro em Rosebank”, o autor que tem uma forma peculiar de pintar as paisagens com as palavras, nos apresenta um bom retrato da vida académica e de alguns debates que visam explorar a importância da história dos heróis africanos. O autor apresenta também uma imagem viva da cidade de Maputo e de algumas cidades sul africanas, abordando o quotidiano, a rotina das pessoas que viajam entre os dois países vizinhos, incluindo o drama de quem exerce o comércio informal, também conhecido como “mukheru”, caraterizado pela travessia das fronteiras para África do Sul, onde os comerciantes compram bens para revender nos mercados de Maputo. A propósito disto, o núcleo composto por Kiwanga e a família desta, desenvolve um papel relevante na narrativa, evidenciado a importância do empreendedorismo na vida dos moçambicanos. É de forma que podemos dizer que personagens como Kiwanga e Hermes, nesta ficção, trazem-nos uma certa representação do povo moçambicano.

A escrita de Lex Mucache revela-se leve e concisa, com diálogos bem construídos, embora em alguns momentos certas descrições pareçam demoradas. É uma leitura rápida e prazerosa, auxiliada pelo lindo e excelente trabalho de diagramação feito pela editora Fundza.

Em resumo, Encontro em Rosebank é um bom livro para sorrirmos e que vale a pena ser lido, pela mensagem que nos traz sobre o amor, a amizade e o desafio de nos tornarmos e nos fazermos humanos melhores.

❝e o que era a juventude sem esperança?❞

Sobre o autor

Lex Mucache é pseudónimo de Heráclito Alexandre Mucache. Nasceu na cidade de Maputo no ano de 1980. É professor e desenvolve actividades de leitura e escrita criativa nas escolas primárias. Autor do livro de contos «Asas Decepadas» (Kulera, 2020), obra finalista do Prémio 10 de Novembro de 2019. Tem obra dispersa em vários jornais e revistas.

A nossa classificação: 4.8 de 5 estrelas

Opiniões, Resenhas

Literatura| Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa| Opinião

Autor: Ungulani Ba ka Khosa

Editora: Alcance

Idioma: Português

Sinopse

Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, mambo (rei) de uma região à norte do rio Zambeze acaba de morrer. Durante o “choriro”, todos pretendem saber se o desejo de Nhabezi se irá concretizar: transformar-se em espírito de mpodoro, como acontece com todos os chefes da região.

Opinião:

O romance histórico, por natureza, faz uma reflexão acerca de uma realidade histórica entremeada com elementos ficcionais. As personagens ficcionais se misturam a personagens históricos “ficcionalizados” na estrutura da narrativa. Muitas vezes, tambem, o romance histórico questiona e problematiza a própria história.

Choriro é um exemplo deste tipo de obra. Ao retratar o passado, numa versão imaginada pelo autor, o livro não só contribui para a reconstrução da memória cultural, como também interpreta para o leitor, a experiência humana dessa época. A palavra Choriro significa dor, ou também, o período de três dias de luto, durante os quais o morto é preparado para a cerimónia de enterro.

Segundo Marcelo Panguana, que escreveu uma crítica sobre Choriro, no livro “conversas de fim do mundo”, antes da publicação de Choriro, alguns pormenores do livro, no entender do autor, ainda não o convenciam. “Considerava o título da obra estático, sem a agressividade e a capacidade de sedução pretendidos. O substantivo choriro remetia a um cenário calmo e apático que poderia desmobilizar a curiosidade de eventuais leitores”. Um bom título tem sempre a capacidade não só de atrair o leitor, mas também a de ajudá-lo a descobrir o livro, o que este título, acabou por fazer com mestria.

Com um rico nível de detalhe e extremo rigor na pesquisa, o autor ambientou este romance no Vale do Zambeze, mais precisamente em Tete e na Zambézia, no século XIX. A história centra-se em Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, ou como o mambo (rei) da região. Nhabezi é um invasor português que acaba por adaptar-se e apropriar-se dos costumes e tradições locais, tornando-se curandeiro, tendo várias mulheres e muitos filhos. Nhabezi, ou Gregódio, introduziu também novas práticas na região.

O livro faz incursões sobre figuras históricas, como David Livingston, explorador inglês, Kaniemba ou Matequenha, nomes de guerra de dois senhores de prazo, da época, e até Ignácio de Jesus Xavier, mais conhecido por Kalizamimba, figura cuja história foi abordada recentemente por Isabel Ferrão, no seu romance Kalizamibma.

Sendo um livro com diversas histórias secundárias muito interessantes, algumas ficaram por aprofundar. Queríamos ter conhecido com mais  detalhes a história de Nfuca, de João Alfai, da Dona Josefina e também dos luanes de Quelimane, os prazos da época, com uma estrutura diferente da dos descritos em Tete.

O autor constrói vários personagens no livro, uns mais cinzentos que outros, mas todos certamente com características únicas. Pela quantidade de dados a assimilar, e por reflectir o contexto de um importante período histórico, que certamente traz elementos que moldam o actual contexto, é um livro que deve ser lido sem pressa e com bastante atenção.

A nossa pontuação: 5 de 5 estrelas.

Opiniões

Resenha do Livro Espíritos Quânticos – Uma jornada por histórias de África em Ficção Especulativa

O livro, Espíritos Quânticos – Uma jornada por entre histórias de África em Ficção Especulativa, é organizado pela romancista moçambicana Virgília Ferrão. Esse projeto editorial cumpre, com proeza e diversidade, alguns dos objetivos do blog Diário de Uma Qawwi: promover histórias de ficção especulativa em língua portuguesa, por autores africanos, e incentivar a publicação de novos e novas autores e autoras.

Virgília Ferrão é natural de Maputo, Moçambique. É graduada em Direito, pelo Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM). Atualmente, trabalha para a TotalEnergies EP Mozambique Area 1, como consultora jurídica. É administradora do blog Diário de uma Qawwi. Em 2005, publicou a sua primeira obra literária O Romeu é Xingondo e a Julieta Machangane, através da Imprensa Universitária da Universidade Eduardo Mondlane. A sua segunda obra, O Inspector de Xindzimila, foi publicada em 2016, pela editora brasileira Selo Jovem. Recebeu o “Prêmio Literário 10 de Novembro”, em 2019, concedido pelo Conselho Municipal de Maputo, tendo sido a primeira mulher a vencer este prêmio. Em breve, lançará o romance Os Nossos Feitiços, pelo Selo Katuka Edições, do Brasil.

Os 32 textos, que compõem Espíritos Quânticos, foram selecionados, neste ano, através de um edital de chamada pública, bem como de um convite dirigido a alguns autores. Participam dessa antologia: Adelino Luís, Agnaldo Bata, Álvaro Taruma, Andreia da Silva, Bento Baloi, Came, Dalêncio Benjamin, Daniel da Costa, Jeconias Mocumbe, João Baptista Caetano Gomes, Jorge Ferrão, José Luís Mendonça, Lex Mucache, Léo Cote, Luís Eusébio, Marcelo Panguana, Marvin Muhoro, Mateus Licusse, Mélio Tinga, Mia Couto, Nick Wood, Oghenechovwe Donald Ekpeki, Ortega Teixeira, Ossulo Wripa, Shadreck Chikoti, Sonia Jona, Suleiman Cassamo, Teresa Taímo, Vera Duarte, Virgília Ferrão e Zukiswa Wanner. Esses e essas contistas forjam invenções de histórias de Áfricas pelo viés da ficção especulativa.

Múltiplas vozes narram, dentre outras temáticas, sobre o sobrenatural, a feitiçaria, legados e patrimônio culturais africanos, o invisível, a ocidentalização de práticas culturais, consideradas tradicionais africanas, o mundo encantado, o mistério, a possessão, o curandeirismo, a premonição, os espíritos de ancestrais, mitos e ritos africanos, como é inerente às narrativas denominadas pelo ocidente como especulativas. Assim, os contos transitam entre a ficção científica, as ficções utópicas e distópicas, até o afrofuturismo.

O inusitado e o quase inexplicável desfilam como chaves discursivas e elementos fundantes e argumentativos das narrativas. A fantasia e a imaginação, neste interim, entrecruzam-se, por vezes, com o estranhamento aparente e as vivências do “desconhecido” dos (das) narradores (as), quiçá, dos (das) autores (as) de Espíritos Quânticos, pondo em relevância uma possível diluição das fronteiras entre o ficcional e o real. Em seus contos, o natural e o sobrenatural, os mundos visível e invisível aparecem, pois, sem dicotomias e entrecruzados.

A ficção especulativa, comumente, evidencia olhares criativos e indagativos sobre passados históricos, eventos do tempo presente e ou “viagens” e narrativas futuristas, tensionando mundos, nem sempre visíveis, mas todos sempre inventados, e “experiências” que se distanciam, normalmente, das convenções sociais e de diversas “ditas realidades”. Nas narrativas da coletânea Espíritos Quânticos, entretanto, diferentemente da via ocidental, os tempos se interseccionam e os mundos visíveis e invisíveis coexistem, como é inerente à existência humana na África. Os contos, desse modo, se apresentam como possibilidades de se nutrir e, ao mesmo tempo, (re)criar, (re)significar, ficcionalmente, o vivido e o desejado e (re)desenhar perspectivas envoltas às várias temporalidades e espacialidades africanas. Não tão somente o passado ou o futuro compõem e interessam às narrativas; ao contrário, o presente, passado e futuro se amalgamam e decorrem, com circularidade, em imaginários, mitologias, cosmogonias, territórios e práticas culturais africanas, diminuindo (ou até desconsiderando), por exemplo, as vertentes do horror e do fantástico, normalmente, imputados pelo ocidente às literaturas fantástica e científica.

A leitura de Espíritos Quânticos, neste tocante, permite transitar entre histórias que aconteceram (ou não) na África e, mais ainda, poderiam acontecer, esmiuçando os limites entre o possível e o impossível, ou seja, realidades distópicas podem ser experimentadas e ou narradas. Outrossim, os textos da coletânea apresentam narrativas instigantes sobre as vicissitudes que permeiam a existência, mas também sobre fenômenos, eventos e dinamicidades culturais que povoam e surpreendem o cotidiano em territórios africanos.

Espíritos Quânticos é uma relevante travessia ficcional para desvendar mundos, figuras, tempos, lugares e histórias da África. Indico a sua leitura porque, provavelmente, propiciará o conhecimento de eventos históricos e do presente e traços culturais africanos. Além disso, ler as suas narrativas, certamente, oportunizará reflexões sobre singularidades de seus signos linguísticos, culturais e sagrados e, indubitavelmente, favorecerá o importante exercício de (re) intepretação de seus sentidos e significados.

Salvador-BA, Brasil, 24 de novembro de 2021.

Ana Rita Santiago

Professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

e da Universidade do Estado da Bahia.

Coordenadora Editorial do Selo Katuka Edições.

Livros, Opiniões, Resenhas

Literatura| An American Marriage (Um Casamento Americano), de Tayari Jones | Opinião

Autor: Tayari Jones

Editora: Algoquin Books

Idioma: Inglês

Sinopse

Os recém-casados ​​Celestial e Roy, são o protótipo do sonho americano. Ele é um jovem executivo e ela uma artista na fase inicial de uma carreira empolgante. Mas à medida que se estabelecem na rotina da vida a dois, eles são dilacerados por circunstâncias que nenhum dos dois poderia ter imaginado.

Roy é preso e condenado a 12 anos, por um crime que Celestial sabe que ele não cometeu. Apesar de ser uma mulher forte e independente, Celestial se vê desolada e desamparada, consolando-se com André, seu amigo de infância e padrinho de casamento. O tempo de Roy na prisão vai passando, e Celestial é incapaz de manter o amor que sempre foi o seu centro. Porém, ao final de 5 de anos, a pena de Roy é subitamente revertida e ele volta para Atlanta, pronto para retomar a sua vida ao lado de Celestial.

Opinião:

A história intercala a narração dos protagonistas, nomeadamente Celestial, Roy e André, uma técnica que empresta uma dinâmica bastante interessante à narrativa, e que acaba por ser efectiva. Foi uma boa decisão da autora mostrar os diferentes pontos de vista dos personagens, pois sem a persepctiva de Celestial, o leitor estaria mais propenso a criar certa animosidade ou até mesmo a ter uma recepção negativa para com esta personagem.

An American Marriage, apresenta-nos uma trama honesta e impactante, escrita de forma belíssima, não apenas sobre a realidade do sistema social e político da região em que se desenrola, mas também dos valores matrimoniais, expostos à condição essencialmente humana. Com o marido na prisão, Celestial, que não esperava ver-se tão cedo sozinha, acaba por envolver-se com André, seu amigo de infância. Mas Roy, inocente, ao ser libertado, deseja regressar à vida de casado com Celestial, formando-se aqui um triangulo amoroso complicado e doloroso. Somos levados assim, a reflectir, sobre até que ponto conseguimos cumprir as promessas consideradas sagradas e até mesmo inquebráveis.

Um história, em última análise, melancólica, sobre como uma injustiça social pode abalar a vida pessoal, e sobre como dinâmicas inesperadas podem sobrepor-se aos votos matrimoniais.

A capa do livro é extremamente elegante e dialoga com o tema do romance.

Um leitura recomendável.

A nossa pontuação: 4.5 de 5 estrelas.

Sobre a autora:

Tayari Jones é autora de quatro romances, mais recentemente “An American Marriage”, que foi eleito para a Selecção do Clube de Livros da Oprah 2018, e ganhou o Prêmio Feminino de Ficção de 2019. Jones é graduada pelo Colégio de Spelman, pela Universidade de Lowa e pela Universidade do Estado de Arizona.

Literature| An American Marriage, by Tayari Jones | Opinion

Author: Tayari Jones

Publisher: Algoquin Books

Language: English

Synopsis

The newlyweds Celestial and Roy are the embedment of both the American dream and the New South. He is a young executive, and she is an artist in the brick of an exciting career. But as they settle into the routine of their life together, they are ripped apart by circumstances neither of them could have imagined.

Roy is arrested and sentenced to 12 years for a crime Celestial knows he didn’t commit. Despite being a strong and independent woman, Celestial finds herself bereft and unmoored, taking Comfort in Andre, her childhood friend and best man at their wedding. As Roy’s time in prison passes, she is unable to maintain the love that has always been her center. However, after 5 years, Roy’s conviction is suddenly overturned and he returns to Atlanta, ready to resume his life with Celestial.

Opinion:

The story combines the narration of the protagonists, namely Celestial, Roy and André, a technique that lends a very interesting dynamic to the narrative, and which ends up being very effective. It was a good decision of the author, to show the different points of view, without Celestial’s perspective, the reader could find himself leaning to a certain animosity or even negative reception by towards this character.

An American Marriage presents us with an honest and impressive plot, beautifully written, not only about the reality of the social and political system of the region in which it takes place, but also about matrimonial values, exposed to the essentially human condition. With her husband in prison, Celestial, who did not expect to find herself alone so soon, ends up getting involved with André, her childhood friend. But Roy, innocent, on being freed, wants to return to his life with Celestial, forming here a complicated and painful love triangle. We are thus led to reflect on the extent to which we are able to fulfill the promises considered sacred and even unbreakable.

Ultimately, a melancholy story of how social injustice can undermine personal life, and how unexpected dynamics can overwhelm marriage vows.

The book cover is extremely elegant and dialogues well with the theme of the novel.

A recommendable read.

Our score: 4.5 out of 5 stars.

About the author:

Tayari Jones is the author of four novels, most recently “An American Marriage,” which was a 2018 Oprah’s Book Club Selection, and won the 2019 Women’s Prize for Fiction. Jones is a graduate of Spelman College, the University of Lowa and Arizona State University.

Cinema (Filmes / Séries), Opiniões, Resenhas

Cinema| You’ve got this (Ahi te encargo)| Opinião (Review)

Título: You got this (Ahi te encargo)

Direcção: Salvador Espinosa

Género: drama; comédia; família

Elenco: Maurício Ochmann; Esmeralda Pimentel

Ano: 2020

Imagem Fonte: Hagertjourn

Sinopse

Alex, um criativo publicitário quer ser pai a todo o custo, mas a sua mulher é uma advogada no topo da carreira, e ser mãe não faz parte dos seus planos. Um convidado inesperado irá desafiar o amor do casal.

Opinião

“You got this”, ou título original em espanhol, “Ahi te encargo”, é uma comédia mexicana, de 2020, sobre um casal feliz, que entretanto, tem sonhos e filosofias diferentes. É curioso que, muitas comédias recentes da América Latina (como por exemplo o filme “One Small Problem”), têm trazido este debate, com a tendência em inverter os papeis, onde a mulher, no auge da carreira, ou simplesmente por escolha natural, não deseja ter filhos. Por alguma razão, a Netflix está a apostar nestes roteiros, obviamente com uma audiência específica. Se calhar, em jeito de comédia, para mostrar uma realidade presente e mais verdadeira do que se pensa?

Alejandro e Cecília, protagonistas da trama, encarnam um casal regular, com algumas características dos típicos personagens deste tipo de comédias, mas também, com uma postura mais séria, que debatem as suas diferenças. Cecília sempre deixou claro que não deseja ter filhos, facto que, a dada altura, entra em choque com o desejo de Alejandro, que quer ardentemente ser pai. O filme tem alguns bons momentos, mas não é tão memorável, nem eficiente no quesito a que se propõe. Entretanto, houve o cuidado de trazer essa discussão complicada, sem retratar um outro género de forma negativa, pelas suas escolhas. Vale, também, pela representação do empoderamento da mulher, da queda do machismo e pela mensagem sobre os valores que valem num relacionamento (o diálogo e compromisso).

Filme de Domingo, que vale a pena ver se você estiver interessado no tema, mas não necessariamente uma forte comédia.

A nossa pontuação:

3 de 5 estrelas

Confira o trailer no link mais abaixo:

ENGLSIH VERSION

Plot:

Alex, na advertsing creative wants to be a father at all costs, but his wife is a lawyer on the top of her career, and being a mother is not part of her plans. An unexpected guest will challenge the couple’s love.

Opinion

“You got this,” or its original Spanish title, “Ahi te encargo,” is a 2020 Mexican comedy about a happy couple who, in the meantime, have different dreams and philosophies. Interestingly, many recent Latin American comedies (such as the film “One Small Problem”), have brought this debate, with the tendency to reverse the roles, where the woman, in the top her career, or simply by natural choice, does not wish to have children. For some reason, Netflix is betting on these scripts, obviously with a specific target. Maybe, in a way, to show a reality that is present and truer than we think?

Alejandro and Cecilia, the plot’s protagonists, embody a regular couple, with some features of typical characters of this type of comedies, but also, with a more serious stance, who debate their differences. Cecilia has always made it clear that she does not wish to have children, a fact that at a certain point clashes with Alejandro’s desire, who ardently wants to be a father. The film has some good moments, but it is not that memorable, nor is it efficient in what it sets out to do. However, care was taken to bring up this complicated discussion without portraying one or another gender in a negative light, for their choices. It is also worth it for the representation of women’s empowerment, the fall of chauvinism, and for the message about the values that count in a relationship (dialogue and commitment).

Sunday movie, worth seeing if you are interested in the topic, but not necessarily a strong comedy.

Our score:

3 out of 5 stars

Check the trailer here:

https://m.imdb.com/video/vi4088054041?playlistId=tt13118012&ref_=tt_ov_vi

Livros, Opiniões, Resenhas

Literatura | O Estranho, de Ad Chaves – Opinião

Autor: Ad Chaves

Editora: Tribo das Letras / Amazon

Idioma: Português

Sinopse

“Dez anos são suficientes para que a verdade venha à tona? Neste suspense, os personagens terão as suas vidas presas numa vertiginosa trama onde a traição, o amor e o ódio se fundem numa tentativa desesperada para manter, sob camadas de mentiras, a verdade. Júlia, após descobrir que perdera anos num casamento por interesse, com um renomado advogado, vê a sua vida colocada de cabeça para baixo quando, numa noite chuvosa, o encontro com um estranho, num hotel de beira de estrada, a leva para um inesperado caminho. Impelida pela imprevista atraccão pelo misterioso desconhecido, ela vê-se arrastada para um trilho onde a vingança é o norte, e a vítima e o culpado se alternam, fazendo-a questionar-se, sobre quem, de faco, é o Estranho na sua vida.

Opinião

Já há muito tínhamos curiosidade de conhecer a obra de Ad Chaves, autor da editora Brasileira Selo Jovem, e por essa razão, a leitura de “o Estranho”, livro de estreia deste autor, foi das mais ávidas este ano. A Selo Jovem tem trazido trabalhos muito promissores de vários autores e Ad Chaves não é a excepção. Entretanto, a obra aqui em alusão, foi piblicada pela Tribo de Letras e encotra-se de igual forma disponível na Amazon.

Com uma escrita de fácil acesso e muito concisa, Ad Chaves nos conduz por uma narrativa bastante fluida, de suspense, à volta de uma trama sobre vingança, amor e injustiças.

Narrado na terceira pessoa, cada capítulo inicia com uma citação da protagonista Júlia, cujo contexto é explicado no final do livro.

Julia, a semelhança de algumas mulheres do quotidiano, casou-se com André, pelas razões erradas, e com o passar do tempo, as consequências desse acto, resultam num casamento infeliz, com contornos inesperados.

Relativamente à construção de algumas personagens, embora no geral estejam a maioria, bem construídas, não conseguimos ter grande empatia para com a Julia, talvez pela certa superficialidade na sua personagem, o que poderia, porventura, ter sido colmatado com um pouco mais de desenvolvimento psicológico à volta da mesma. Em compensação, somos apresentados com alguns personagens, como Clara, Jorge e o próprio “Estranho”, que tem um background mais interessante de descortinar.

O autor impressiona também pela óptima capacidade de criar tensão e fazer com que o leitor prenda-se à leitura, desde o início ao fim, devorando as páginas num ápice. Um ponto fraco, entretanto, é que, o narrador, enquanto omnisciente, revela-nos alguns aspectos da trama de forma bastante depressa e directa, frustrando em alguns momentos as expectativas do leitor. Apecto, que todavia, acaba por ser compensado pela boa técnica em apresentar-nos sem demoras reviravoltas de impacto.

Em resumo, para um livro de estreia, é um óptimo livro, com uma trama de grande sensibilidade, muito suspense para quem gosta deste género, e que facilmente poderia ser adaptada para um roteiro de cinema.

Sobre o autor

“Ademilson Chaves é mineiro e como todo mineiro gosta de contar histórias. Muito cedo descobriu que gostava de livros tornando-se um leitor voraz. Formou-se na Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina. Nas horas vagas descobriu um grande prazer, criar e escrever histórias capazes de prender o leitor ávido por uma boa trama.”

A nossa classificação: 4 de 5 estrelas

Opiniões, Resenhas

Cinema |Dangerous Lies (Mentiras Perigosas) – Filme|– Opinião

 

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Imagem: Netflix

Título: Dangerous Lies (PT Mentiras Perigosas)

Direcção: Michael Scott

Elenco: Camila Mendes, Jessie T.Usher, Jamie Chung, Cam Gagandet, Sasha Alexander, Elliot Gould

 

Género: drama

Ano: 2020

Premissa

Uma jovem provedora de cuidados de saúde, herda de forma inesperada todos os bens e a casa do seu paciente, todavia, segredos sombrios giram em torno desta nova riqueza, enredando a jovem numa teia de enganos e de perigos.

Opinião

 O título é como ele se apresenta: generalista e até um bocado cómico, para quem leva o cinema a sério. Um filme de qualidade, e de preferência cativante, é sempre bem vindo. Mas Mentiras Perigosas talvez tenha apenas a segunda faceta. Às vezes isso é suficiente, um entretenimento bobo, acompanhado de uma chavenazinha de chá, especialmente nestas alturas em que queremos apenas desanuviar.

O enredo traz a história de um jovem casal, de boa índole, que vive apertos financeiros, pois Adam (Jessie T Usher), está desempregado. Já a protagonista Katie (Camila Mendes), esposa de Adam, trabalha como provedora de cuidados do velho Leonard (Elliot Gould), um homem bondoso, sem família, solitário e com a saúde frágil. O velho Leonard acaba morrendo durante o sono e nessa sequência, Katie, que apenas trabalhava para ele há 4 meses, herda os seus bens. Aos olhos de todos, as circunstâncias são bastante suspeitas e o casal vê-se a contar à polícia um monte de “(desnecessárias) mentiras perigosas”!

Apesar de a trama ser tola (e as personagens rasas), achamos a fotografia satisfatória, assim como a trajectória dos eventos, que permitem o filme prender a atenção do telespectador com sucesso. Não há grandes surpresas, mas o suspense e a tensão conseguem ser mantidos durante grande período do filme. É duro ver protagonistas, supostamente inteligentes, tomarem as decisões mais estúpidas da face planeta. Totalmente intragável, é verdade. E o final, infelizmente, é demasiado óbvio e desleixado, deixando pontas soltas. Estes aspectos, não invalidam, porém, a experiência, que vale a pena pela moral já conhecida, o qual revela-se um bom elemento agregador. A trilha sonora é ajustada à pelicula.

Recomendável para quem estar entretido, sem algo muito complexo, nem tão brilhante.

A nossa classificação: 3 de 5 estrelas

Confira o trailer:

 

 

Lançamentos!, Livros, Opiniões

Literatura| Contos e crónicas para ler em casa Vol. II – Antologia | – Opinião

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Autores: Armindo Mathe, Baptista Américo, Énia Lipanga, Ganhanguane Masseve, Herminia Francisco, Izidro Dimande, Jaime Munguambe, Jessemusse Cacinda, Mauro Brito, Miguel Luís, Miller Matine, Nelson Lineu, Pretilério Matsinhe, Sadya Bulha, Sandra Tamele, Sara Jona, Tassiana Tomé e Teresa Taímo

Coordenação: Eduardo Quive & Mélio Tinga

Edição: Abril de 2020

Revista Literaturas

Baixe e leia o livro Aqui

Opinião

Esta antologia, que conta com a curadoria de Eduardo Quive & Mélio Tinga, é um projecto da Revista Literatas, idealizado para estimular aquela que é uma das principais aliadas nesta época de isolamento social: a leitura. O projecto decorre da publicação de um primeiro volume, bem recebido belos leitores, que em pouco tempo ultrapassou a faixa dos 1.000 downloads (encontre o primeiro volume Aqui).

Nós do diário de uma qawwi, tivemos a oportunidade de conferir os 18 contos e crónicas, de autores moçambicanos, neste segundo volume, todos eles singulares e provocativos, agregando no seu conjunto uma diversidade de temas e sentimentos. Passamos a explorar brevemente alguns deles, sem seguir necessariamente uma ordem cronológica:

Madala” (de Armindo Mate) é um texto leve, familiar, que irá relembrar as nossas vivências.

Ao longo da antologia encontramos ainda temas como a violência doméstica e relacionamentos abusivos, em “tu não vais sair de casa com essa roupa, minha mulher não pode vestir assim” (de Énia Lipanga); idas e vindas, perdas, e complexidades das relações afectivas em “o silêncio cintilante”, “a cábula” e “o que somos nós então”, de Hermínia Francisco, Isidro Dimande e Miller A. Matine, respectivamente.

Também encontramos reflexões sociais em contextos mais actuais, como por exemplo a crónica “um corpo crivado de balas” (de Jessemuce Cacinda) e “a revolução não será viralizada: assuntos domésticos e afectivos” (de Tassiana Tomé).

A sátira espelhada no rosto da nossa sociedade faz-se presente em alguns textos desta antologia como “o anão sobressalente” (uma brilhante proposta de Mauro brito), “há muitas lágrimas nos olhos de Sua Excelência” (de Miguel Luis) e o “bicho bicha” (de Nelson Lineu). Estes textos irão certamente trazer algum calor aos leitores, após as gargalhadas.

E que tal uma história de época, em “estilhaços, memórias de um combatente” (de Pretilério Matsinhe), uma descontraída reflexão sobre as consequências da nova tecnologia no quotidiano, em “Minuto 76” (de Sadya Bulha), ou ainda, uma incursão pela tradição oral, onde muitos irão identificar as suas próprias raízes, em “histórias com sabor a misericórdia: dar atenção aos antepassados” (de Sara Jona)?

A antologia traz ainda “fenestrada” (de Sandra Tamele), um conto de estilo bastante elegante na sua concepção, repleto de referências do mundo artístico; e “o meu “Surge et. ambula” em Chibuto” (de Teresa Taimo), um texto honesto, leve, que reflecte a realidade das redes sociais e que irá identificar muitos de nós. Este conto tornou-se um dos nossos favoritos, ao lado de outros acima mencionados.

A capa do livro e a diagramação são satisfatórias, embora visualmente a arte gráfica do primeiro volume pareça atrair mais a atenção do leitor. Nota-se pequenas gralhas na revisão de um ou outro texto, mas nada que atrapalhe a leitura prazerosa oferecida neste belíssimo projecto.

A nossa pontuação: 5 de 5 estrelas

Cinema (Filmes / Séries), Opiniões, Resenhas

Cinema | Aladdin – o tapete mágico para uma saudosa viagem | Opinião

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Imagem: Pipocasclub

Título: Aladdin

Direcção: Guy Ritchie

Elenco Principal: Will Smith, Mena Massoud, Naomi Scott, Nasim Pedrad

Género: Fantasia; Romance; Live-action; Musical

Ano: 2019

Sinopse

Um jovem humilde descobre uma lâmpada mágica, com um gênio que pode conceder-lhe 3 desejos. Agora, o rapaz quer conquistar a jovem por quem apaixonou-se, desconhecendo o facto de que a mesma é a princesa do reino. Com a ajuda do gênio, ele tenta passar-se pelo Príncipe Ali, para conquistar o amor de Jasmine e a confiança do sultão.

 Opinião

Deste lado somos da geração que até hoje guarda na memória cada diálogo e canção deste que é um dos clássicos mais bonitos da Disney. Não é assim de surpreender, que estivéssemos muito curiosos com relação a esta live-action, quando não para conferir as impressões inicias, para matar as saudades desta animação. E é isto que o filme proporciona: uma agradável viagem pelo tempo, no tapete mágico das lendas árabes. Todavia, embora tente manter-se fiel ao clássico, com as devidas (e necessárias) adaptações, o filme acaba por perder parte do glamour e do brilho da animação original. O que terá acontecido com os elefantes, os camelos, os mamíferos raros e toda a pompa que acompanha a grande entrada do príncipe Ali? E o ambiente idílico, com direito a passagem por magníficas garças e pelas pirâmides de Gizé, na canção “a whole new word”? Pode ter sido deficiência dos efeitos CGI ou meramente, alguma falta de esmero nesses detalhes?

Aladdin (2019)                                   Aladdin (1992)

Aladdin (2019)                                          Aladdin (1992)

Olhando para os personagens, ficamos, honestamente, deveras desiludidos com a escolha para Jasmine. Nada contra Naomi Scott, que provou ser uma excelente actriz, à altura desta nova personagem, ávida por direitos iguais e empoderamento. Excepto, entretanto, que em nada ela parece a Jasmine da animação. Marwan Kenzari, tão pouco esteve à altura do carismático Jafar. Na verdade, Kenzari está extremamente fraco, demasiado sério, e nada vilanesco. Mas também, convenhamos, seria difícil conseguir trazer na plenitude a elegância do clássico vilão. Fora estes senões, há aspectos dignos de apreciação.

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Imagem: portalapmais

A interpretação de Will Smith é das mais originais e rende à película diversas cenas engraçadas e inesperadas, fazendo justiça à personagem da animação, vivida em voz pelo saudoso Robin Williams.

Por outro lado, apesar de não ter a mesma energia do Aladdin original, Mena Massoud transmite sensibilidade e charmes únicos, fazendo deste ladrão generoso um personagem muito querido. Mena revela-se assim, uma escolha bastante apropriada. É fácil temo-lo como o Aladdin da vida real.

As canções do filme estão soberbas, com destaque para novos hits, incluindo “Speechless”, que tem uma belíssima interpretação de Naomi Scott. Em resumo, é um bom filme, que apesar de ficar algo aquém da animação, vai entreter e encantar os amantes de Aladdin.

Confira o trailer:

A nossa classificação: 4 de 5 estrelas

Opiniões, Telenovelas

Novelão: 5 tramas inspiradas em clássicos da literatura

No que se refere a teledramaturgia brasileira, já foi referido que as telenovelas ocupam um lugar de destaque no quotidiano das pessoas, não só no Brasil, como em várias partes do mundo. O que é pouco destacado, entretanto, é o facto de algumas destas histórias ricas de temáticas sociais, paixão e aventuras, buscarem inspiração na literatura. Na resenha de hoje, vamos conferir 5 telenovelas da TV Globo que foram inspiradas ou baseadas em livros.

Vamos a isso?

5. A Padroeira (2002)

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Escrita por Walcyr Carrasco, esta novela é uma adaptação do romance As Minas de Prata, de José de Alencar. A Padroeira conta a história do amor impossível entre Valentim Coimbra e Cecília de Sá, na vila de Santo António de Guarantinguetá, no ano de 1717. Outras referências utilizadas foram Romeu e Julieta de William Shakespeare e A Dama de Monsoreau, de Alexandre Dumas.

4. O outro lado do paraíso (2017)

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Escrita por Walcyr Carrasco e actualmente em exibição na STV (Moçambique), tem a trama principal livremente inspirada na obra O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas.

3. Sinha Moça (2006)

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Foto: Divulgação/João Miguel Júnior/TV Globo

Escravidão, política e liberdade eram os temas centrais nesta novela de Benedito Ruy Barbosa, que foi baseada no livro do mesmo nome, de Maria Dezonne Pacheco Fernandes.

2. Tieta (1989)

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Esta novela foi uma livre adaptação do livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado. A actriz Betty Faria contou que os direitos da obra foram comprados com o intuito de realizar-se uma produção independente (in memórias da Globo). Segundo a actriz, foi ela quem negociou a compra dos direitos directamente com Jorge Amado.

  1. Porto dos Milagres

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De Aguinaldo da Silva e Ricardo Linhares, Porto dos Milagres é uma adaptação dos livros Mar mortoA descoberta da América pelos turcos, ambos de Jorge Amado. A trama foi marcada por romances a meio de conflitos de classes, e destacou a religiosidade do povo da Bahia, no Brasil.

 

Na sua opinião, qual novela teve melhor adaptação?