Cantinho da Qawwi

Um verso de (one verse by) Matilde Chabana

O chá

Servir-te-ei a mim

Dentro dos lençóis pecadores

Servir-te-ei o chá, a tosta, a fruta,

Só de calcinha

Não a tires, afasta-a com a poesia dos teus dedos,

Para tocares melhor essas húmidas palavras

The tea

I’ll serve myself to you

Within the sinful sheets

I’ll serve you the tea, the toast, the fruit,

In underwear only

Don’t take it off, pull it away with the rhyme of your fingers,

So that you can better touch these moist words

Poema de Matilde Chabana, in “O Perfume do Pecado”

Publicado pela Editora Kulera

Foto: Jornal Noticias
Opiniões, Resenhas

Literatura| Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa| Opinião

Autor: Ungulani Ba ka Khosa

Editora: Alcance

Idioma: Português

Sinopse

Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, mambo (rei) de uma região à norte do rio Zambeze acaba de morrer. Durante o “choriro”, todos pretendem saber se o desejo de Nhabezi se irá concretizar: transformar-se em espírito de mpodoro, como acontece com todos os chefes da região.

Opinião:

O romance histórico, por natureza, faz uma reflexão acerca de uma realidade histórica entremeada com elementos ficcionais. As personagens ficcionais se misturam a personagens históricos “ficcionalizados” na estrutura da narrativa. Muitas vezes, tambem, o romance histórico questiona e problematiza a própria história.

Choriro é um exemplo deste tipo de obra. Ao retratar o passado, numa versão imaginada pelo autor, o livro não só contribui para a reconstrução da memória cultural, como também interpreta para o leitor, a experiência humana dessa época. A palavra Choriro significa dor, ou também, o período de três dias de luto, durante os quais o morto é preparado para a cerimónia de enterro.

Segundo Marcelo Panguana, que escreveu uma crítica sobre Choriro, no livro “conversas de fim do mundo”, antes da publicação de Choriro, alguns pormenores do livro, no entender do autor, ainda não o convenciam. “Considerava o título da obra estático, sem a agressividade e a capacidade de sedução pretendidos. O substantivo choriro remetia a um cenário calmo e apático que poderia desmobilizar a curiosidade de eventuais leitores”. Um bom título tem sempre a capacidade não só de atrair o leitor, mas também a de ajudá-lo a descobrir o livro, o que este título, acabou por fazer com mestria.

Com um rico nível de detalhe e extremo rigor na pesquisa, o autor ambientou este romance no Vale do Zambeze, mais precisamente em Tete e na Zambézia, no século XIX. A história centra-se em Luis António Gregódio, também conhecido por Nhabezi, ou como o mambo (rei) da região. Nhabezi é um invasor português que acaba por adaptar-se e apropriar-se dos costumes e tradições locais, tornando-se curandeiro, tendo várias mulheres e muitos filhos. Nhabezi, ou Gregódio, introduziu também novas práticas na região.

O livro faz incursões sobre figuras históricas, como David Livingston, explorador inglês, Kaniemba ou Matequenha, nomes de guerra de dois senhores de prazo, da época, e até Ignácio de Jesus Xavier, mais conhecido por Kalizamimba, figura cuja história foi abordada recentemente por Isabel Ferrão, no seu romance Kalizamibma.

Sendo um livro com diversas histórias secundárias muito interessantes, algumas ficaram por aprofundar. Queríamos ter conhecido com mais  detalhes a história de Nfuca, de João Alfai, da Dona Josefina e também dos luanes de Quelimane, os prazos da época, com uma estrutura diferente da dos descritos em Tete.

O autor constrói vários personagens no livro, uns mais cinzentos que outros, mas todos certamente com características únicas. Pela quantidade de dados a assimilar, e por reflectir o contexto de um importante período histórico, que certamente traz elementos que moldam o actual contexto, é um livro que deve ser lido sem pressa e com bastante atenção.

A nossa pontuação: 5 de 5 estrelas.

Cantinho da Qawwi

Um verso de (one verse by) Álvaro Taruma

Quadras Desconcertantes

[…Entrar para dentro deste poema é assassinar a pele

Fica-se órfão de qualquer coisa; de tacto

Como os cegos espiando o sol nos murais da solidão

Perde-se o rigor das palavras por dizer

Entrar no coração deste livro é descalçar os sentidos

Caminhamos como se de um mecanismo a óleo

Até onde já não cresce a planta dos pés

Há por aí distâncias que nenhuma geografia alcança

Escancarar a porta deste desejo é fechar a cortina ao silêncio

Pela manhã limpar os vestígios de um amor mal acabado

Abre-se o filme com a mesma arma do crime

E fecha-se com as mãos atravessadas à garganta…]

Disturbing rhymes

[…to enter this poem is to slaughter the skin

One is orphaned of anything; of a touch

Like the blind spying the sun on the murals of solitude

You lose the strictness of the unspoken words

To enter the heart of this book is to take off your senses

We walk as if through an oil mechanism

To where the sole of our feet no longer grows

There are distances out there that no geography can reach

To open the door of this desire is to close the curtain to silence

In the morning to rinse the traces of an unfinished love

You open the film with the same murder weapon

And close it with your hands across your throat….]

Poema de Álvaro Taruma, in “Recolher Obrigatório do Coração”

Publicado pela Alcance Editores

Foto: OPais
Resenhas

Textos da Antologia “Espíritos Quânticos” traduzidos para Eslovaco

Caros Leitores Terráqueos,

No dia 22 de Setembro de 2022, foi publicada a terceira edição da revista Verzia.

A revista Verzia publica na Eslováquia traduções de literatura contemporânea de todo o mundo e esta sua terceira edição é centrada na literatura fantástica/ficção especulativa escrita em português. A compilação das histórias esteve a cargo de Lucia Halová, Silvia Slaničková e Lenka Cinková.

Segundo Lucia Halová, que assina a nota editorial desta edição, encontrar ficção especulativa escrita em português foi uma aventura. As grandes livrarias online de Portugal e do Brasil oferecem principalmente livros deste género traduzidos e não obras produzidas localmente, razão pela qual foi extremamente difícil encontrá-los. Entretanto, na busca de obras portuguesas, Lenka Cinková foi ao terreno e pesquisou directamente nas livrarias em Lisboa, onde frequentemente perguntava se havia alguma obra local deste género. Descobriu assim, que não só estavam obras a ser publicadas, como várias conferências sobre ficção especulativa estavam a ser organizadas naquele país. A Verzia efectuou mais tarde, contacto com a editora portuguesa Divergência, especializada neste tipo de ficção.

A pesquisa da Verzia levou ainda a descoberta do movimento Afrofuturismo, um movimento abordado nesta edição por Waldson Sousa, escritor brasileiro e um dos principais expoentes da literatura afrofuturista no Brasil.

Por fim, a busca sobre a ficção especulativa nos países africanos de língua portuguesa, conduziu a Verzia ao Diário de Uma Qawwi e à chamada de publicação para a antologia Espíritos Quânticos: Uma Jornada por Histórias de África em Ficção Especulativa.

Para o Diário de Uma Qawwi, foi uma honra receber o contacto da Verzia. Durante o processo, o Diário de Uma Qawwi partilhou com a revista o conjunto de textos da antologia, dos quais, três foram seleccionados para a tradução e integração na edição da revista.

Desta forma, no seu todo, a terceira edição da Verzia engloba contos traduzidos de português para eslovaco, de autores de Portugal, Brasil e de Moçambique, incluindo, entre outros, os autores Julia Durand, Waldson Sousa, Nikelen Witter, Mia Couto, Suleiman Cassamo e Virgília Ferrão. Cada conto tem uma ilustração desenhada para a história e estas belíssimas ilustrações foram feitas pela talentosíssima artista eslovaca Kamila Kuricová.

Ilustração de Kamila Kuricová

Conto: “O dia em que Fabião foi engolido por uma caixa automática”, do escritor Suleiman Cassamo, traduzido por Jana Benková Marcelliová.

Os textos de cada país são acompanhados por artigos introdutórios sobre a ficção especulativa nesse país, sendo que o ensaio sobre a ficção especulativa produzida nos países africanos de língua portuguesa, foi escrito por José dos Remédios e traduzido por Zuzana Greksáková.

Por fim, a edição conta com uma secção de recomendações de tradutores tradicionais, onde o leitor pode saber não apenas sobre novos livros, como também sobre o processo da tradução destes textos.

Confira e compre a edição AQUI.

Outras maravilhas humanas, Resenhas

A Bright Flashlight Ahead: the New Narratives Programme (EN/PT)

By Virgília Ferrão, 30 August 2022

The ties between Africa and the United Kingdom are well known. Today, the two maintain cooperation strategies that redefine different narratives in various spheres: art, culture, and education. Indeed, the relevance of international relations and the role each individual plays in these relations are unquestionable.

What may be questionable, however, is how the complex singularities and contexts of each people are interpreted in the course of intercultural dialogues. As the popular saying goes, truth is in the eye of the beholder. In this case, what is truth? Are the African stories known in the UK those with which Africans related to? Are the narratives representative of the UK known in African countries?

These questions are thought-provokingly reflected in the British Council’s research, conducted through M&C Saatchi World Services for a five-year programme called New Narratives. The initiative aims to help update African and UK narratives, stimulating dialogue and promoting more beneficial collaborations between young people across both places.

In this opinion piece, I intend to assess to what extent the research from the British Council is effective for a “new narratives” programme. Particular focus goes to what has been designated as “Narrative Touchpoints”, which refer to the interaction of sources and the conditions that shape common narratives. Four have been identified:these are direct, bridging, mediated, and iconic touchpoints.

Direct touchpoints refer to experiences where young people come in contact with people from the other place. Bridging touchpoints, on the other hand,are platforms that involve people from both places. Examples include the English Football Premier League, with many leading players from African countries.Mediated narrative touchpoints, for its part, include actors, TV, advertising, and news media representations of one or the other. Some portrayals are positive in how they communicate another place, but other representations present a more trivial image.

Iconic narrative touchpoints are interesting in that they refer to individuals, places, and buildings that are identified with either the UK or countries of Africa. Examples include the British royal family and William Shakespeare (UK), as well as images of Nelson Mandela or Kilimanjaro (Africa).

British Council’s research indicates that the dominant narrative, from the perspective of young Africans, is that the UK embodies a diverse range of positive values, being seen as a world leader, academically or economically. At the same time, there is concern about racism and elitism.  From the perspective of young people from the UK, however, the African continent, as a whole, is imagined according to two extremes: idealized for the romantic view on landscape and wildlife, or demonized for corruption and poverty. Nuance is heavier on the African side of the imaginative pool, and more lacking from the British end of the view. Surely, more nuance would be expected in engaging a continent of well over fifty countries spread across three time zones and eight distinct geographical regions, indicating a problem.

The research highlights not only the above-mentioned narrative touchpoints but also narratives that young people from African countries and the UK would like the other to have access to, as well as what aspects of the narratives should be amplified and/or avoided. Interestingly, on the one hand, it is concluded that latent colonial and neo-colonial tropes, cultural appropriation, and the expression of fragility are to be avoided. On the other, influential voices and African diversity are aspects to be magnified. If this were to happen, in my view, there would be a positive impact on the dialogues between people and the development of nations, especially in African countries.

Still on the subject of diversity, inclusion and pluralism, I am of the opinion that new African voices need to be amplified and heard, particularly those we might consider the ‘minority’, for example Lusophones. Despite the language barrier, Lusophone African countries play a major role… role in art, culture, and education, shaping these relations. These countries are often left behind on some interactions that enhance the ties of African countries and UK. As such, translation initiatives from both, so that English audiences from UK and Africa can have access to Lusophone African creations and vice-versa is crucial. On that regard, Mozambique is one of the countries that has been providing great contributions. One example is the work by publisher Trinta Zero Nove, recognized through the Award for Literary Translation Initiative at the London Book Fair of 2021 and the PEN Translates Award (awarded to Sandra Tamele and Jethro Soutar), in 2022, for the translation to English of the book “Tchanaze, a donzela de Sena”, by Carlos Paradona. Initiatives for inclusion may also include foster opportunities for cultural and learning exchange.

Another aspect that can be attained from the methodology employed by the M&C Saatchi-produced research regards fundamental tools for real change in the current narratives. First, interaction and listening to individual voices, especially those of young people. While the role of government and institutions to steer the flywheel is essential in order to achieve desired outcomes, attention must be paid to people, as individuals, and their choices. Likewise, recognizing the multiple and complex realities of each country seems crucial. Understanding, for example, the good, bad, and, above all, the real features about each place – without falling into kneejerk pessimistic or unsupported optimistic theories – is fundamental to the effective implementation of a New Narratives programme. 

By highlighting the touchpoints that shape common narratives, the research makes the importance of dismantling stereotypes obvious. No birds of a feather. Stereotypical habits allow us to strike blows that jeopardize individual, as well as intrinsic inter-institutional relationships. Better opportunities can be achieved if people better understand the myriad cultural characteristics of theirs and other places. Young Africans and young people from the UK may feel that environments or places are against them, when in reality, it is just a matter of clashing views. By stressing this particularity, this long overdue programme shades a new light and view on how this relationship can be successfully built.

Speaking of opportunities, it cannot be ignored that an understanding of the narratives that construct African countries and the UK will lead to greater social inclusion. Such a concept relies on the pro-activity of states in addressing inequalities, however, it is also a complex concept because it encompasses many different realities. The research is a first, foundational step to facilitating understanding of the said differences.

As an author from a Lusophony African country, I am happy to see this research and programme, with the potential to foster dialogue and cooperation between my diverse continent and the UK. In this context, the big lessons to be retained are: rather than the complex realities about individual peoples and places being feared, they should serve for better engagement between peoples; It is time to say goodbye to stereotypes and prejudices. Strictly speaking, it is time for us to rediscover the truth through the eyes of those who are in countries of Africa and the UK.

To access the full report of the research click HERE or visit the link https://www.britishcouncil.org/society/new-narratives/insights/research

Uma brilhante lanterna à vista: o programa Novas Narrativas

Por Virgília Ferrão, 30 de Agosto de 2022

Os laços entre África e Reino Unido são sobejamente conhecidos. Actualmente, o continente e o país mantêm estratégias de cooperação que redefinem diferentes narrativas em várias esferas: arte, cultura e educação. De facto, a relevância das relações internacionais e o papel que cada indivíduo desempenha nessas mesmas relações é inquestionável.

O que pode ser questionável, contudo, é como as complexas singularidades e os contextos de cada povo são interpretados no decurso de diálogos interculturais. Como diz o ditado popular, a verdade está nos olhos de quem a vê. Neste caso, o que é a verdade? As histórias africanas conhecidas no Reino Unido são aquelas com as quais os africanos se identificam? Será que as narrativas representativas do Reino Unido são conhecidas nos países africanos?

Estas questões são reflectidas, de forma instigante, na pesquisa da British Council, por intermédio da M&S Saatchi World Services, para um programa de cinco anos, designado “Novas Narrativas”. A iniciativa visa contribuir para actualizar as narrativas africanas e do Reino Unido, estimulando o diálogo e promovendo colaborações mais benéficas entre os jovens dos dois lugares.

Nesta resenha, pretendo avaliar até que ponto a pesquisa da British Council é eficaz para o programa “Novas Narrativas”. O enfoque particular vai ao que foi designado “os pontos de contacto da narrativa”, que se referem à interacção das fontes e às condições que moldam as narrativas comuns. Foram identificados quatro pontos de contacto da narrativa: 1) directo, 2) ponte, 3) mediático e 4) icónico.

Os pontos de contacto directo referem-se a experiências em que os jovens entram em contacto com pessoas de outros lugares. Já as pontes, por outro lado, são plataformas que envolvem pessoas de ambos os lugares. Exemplos de pontes incluem a Liga de Futebol Inglesa, com muitos jogadores dos países africanos. Os pontos de contacto mediáticos, por sua vez, incluem actores, televisão ou publicidade e representações na midia de um ou outro. Algumas representações são positivas na forma como comunicam o outro o lugar, mas outras apresentam uma imagem mais trivial.

Os pontos de contacto icónicos são interessantes dado que referem-se a indivíduos, lugares ou edifícios que são identificados, quer com o Reino Unido, quer com a África. Exemplos incluem a família real britânica e William Shakespeare (Reino Unido), assim como Nelson Mandela ou o Kilimanjaro (África).

A pesquisa da British Council indica que a narrativa dominante, pela perspectiva dos jovens africanos, é que o Reino Unido encarna uma gama diversificada de valores positivos, sendo visto como líder mundial, em termos académicos ou económicos. Ao mesmo tempo, existe uma preocupação com o racismo e o elitismo.  Na perspectiva dos jovens do Reino Unido, entretanto, o continente africano, como todo, é imaginado de acordo com dois extremos: idealizado pelas visões românticas da natureza e da vida selvagem, ou demonizado pela corrupção e pobreza. As nuances é são mais pesadas do lado africano no campo da imaginação, e mais ausentes do ponto de vista do lado britânico. Certamente, esperava-se muito mais detalhes no envolvimento de um continente com mais de cinquenta países espalhados por três fusos horários e oito regiões geográficas distintas, o que indica um problema.

A pesquisa vai além ao destacar não só os pontos de contacto narrativos mas também as narrativas que os jovens de países africanos e do Reino Unido gostariam que o outro tivesse acesso, bem como que aspectos das narrativas deveriam ser amplificados e/ou evitados. Curiosamente, por um lado, conclui-se que as tropas coloniais latentes e neo-coloniais, a apropriação cultural e a expressão da fragilidade são para ser evitados. Por outro, as vozes influentes e a diversidade africana são aspectos por ampliar. Se isso acontecesse, haveria um impacto positivo nos diálogos entre os povos e no desenvolvimento das nações, especialmente nos países africanos.

Ainda sobre o tema da diversidade, inclusão e pluralismo, sou de opinião que as novas vozes africanas precisam de ser amplificadas e ouvidas, particularmente aquelas que poderíamos considerar a “minoria”, por exemplo, dos países lusófonos. Apesar da barreira linguística, os países da África lusófona desempenham um papel importante, na arte, cultura e educação, moldando estas relações. Estes países são frequentemente deixados para trás em algumas interacções que reforçam os laços dos países africanos e do Reino Unido. Como tal, as iniciativas de tradução de ambos, para que o público inglês do Reino Unido e de África possa ter acesso às criações africanas lusófonas e vice-versa, é crucial. A este respeito, Moçambique é um dos países que tem dado grandes contribuições. Um exemplo, é o trabalho da editora Trinta Zero Nove, reconhecida através do Prémio Excelência em Iniciativa de Tradução Literária na Feira do Livro de Londres em 2021, e do Prémio PEN Translates Award (atribuído à Sandra Tamele e a Jethro Soutar), em 2022, pela tradução para o inglês da obra “Tchanaze, a donzela de Sena”, de Carlos Paradona. As iniciativas de inclusão poderiam também incluir a promoção de oportunidades de intercâmbio cultural e de aprendizagem.

Outro aspecto que pode ser percebido a partir da metodologia empregada pela pesquisa da British Council é referente a ferramentas fundamentais para uma mudança real nas narrativas actuais. Primeiro, a interacção e a escuta de vozes individuais, especialmente dos jovens. Embora seja essencial o papel do Governo e das instituições para orientar o volante, de modo a atingir-se os resultados desejados, deve ser dada atenção às pessoas, como indivíduos, e às suas escolhas. Da mesma forma, o reconhecimento das realidades múltiplas e complexas sobre cada país parece crucial. Compreender, por exemplo, as características boas, más e, sobretudo, as reais sobre cada lugar – sem cair em precipitadas teorias pessimistas ou optimistas sem suporte – é fundamental para a implementação eficaz do programa “Novas Narrativas”.  

Ao destacar os pontos que moldam as narrativas comuns, a pesquisa torna óbvia a importância do desmantelamento de estereótipos óbvios. Não se é farinha do mesmo saco. Os hábitos estereotipados permitem-nos golpes que põem em risco as rotinas diárias individuais e as relações mais intrínsecas interinstitucionais. Melhores oportunidades podem ser alcançadas se as pessoas compreenderem melhor as características culturais dos locais onde se inserem. Os jovens africanos e os jovens do Reino Unido podem sentir que os ambientes ou os lugares estão contra eles, quando, na realidade, é apenas uma questão de mistura de génios e de visões do mundo. O destacamento desta particularidade é um excelente diferencial para o sucesso do programa.

Por falar em oportunidades, não se pode ignorar que uma compreensão das narrativas que constroem os países africanos e o Reino Unido conduzirá a uma inclusão social. Este conceito assenta na pró-actividade dos Estados na abordagem das desigualdades, no entanto, é também um conceito complexo porque engloba muitas realidades diferentes. A investigação facilita a compreensão das diferenças.

Como jovem autora de um país africano lusófono, estou feliz por ver esta pesquisa e este programa com potencial para fomentar o diálogo e a cooperação entre o meu continente e o Reino Unido. Neste contexto, as grandes lições a serem retidas são: ao invés de as realidades complexas sobre cada um dos povos e lugares serem temidas, devem servir para um melhor engajamento entre os povos; as vozes que podem moldar as novas narrativas devem ser ampliadas e as suas ideias podem contribuir para diferentes políticas em ambos lugares. É tempo de dizer adeus aos estereótipos e aos preconceitos. Em bom rigor, é tempo de redescobrirmos a verdade pelos olhos de quem está nos países de África e do Reino Unido.

Para conhecer o relatório da pesquisa na íntegra, clique AQUI ou visite o link https://www.britishcouncil.org/society/new-narratives/insights/research

Cantinho da Qawwi, Lançamentos!

Um verso de (one verse by) David Bene & Mélio Tinga (Objecto Oblíquo)

Hoje é verão ou inverno?

Não há boca que responda. A mão tem cinco dedos, isso basta para que saibas que o mundo nunca foi redondo, que há homens que bebem de seu sangue enquanto emagreces a escrever o poema da tua vida.

Is it summer or winter today?

No lips can answer it. The hand has five fingers, that’s enough for you to know that the earth has never been round, there are men who drink their own blood while you slim down writing the poem of your life.

Texto de David Bene & Mélio Tinga, in “Objecto Oblíquo”

Publicado pela OitentaNoventa, brevemente nas Livrarias

Lançamentos!, Outras maravilhas humanas

CHAMADA PARA A ANTOLOGIA DE CONTOS “LENDAS URBANAS E CONTOS DE MORRER DE MEDO”

Quem não se lembra da história [ou estória] dos “Tatá papá tatá mamã”, da “xipoko xa ma mecha” (fantasma de mechas), do fantasma que apanhava boleia, das serpentes voadoras de Goba, dos Anapaches, dos mitos dos maridos/esposas da noite, do estrangeiro que seduzia mulheres novas e avarentas, para depois infectá-las de doenças medonhas, ou ainda da “Maria bheri ubhozi” (“Maria de uma mamã”)? O imaginário social vive de lendas urbanas e mitos rurais, que, de tempos em tempos, surgem e desaparecem, desempenhando, como advogam alguns especialistas, um papel importante nas sociedades.

Moçambique e as suas diversas regiões não ficam de fora. Quando o assunto é debatido, várias histórias são contadas, muitas delas pequenas, breves, de carácter fantástico ou sensacionalista, divulgada de forma oral. Serão elas verdadeiras, baseadas em factos reais? Ou constituem, somente, parte do folclore (tradicional e moderno)?

A Gala-Gala Edições pretende lançar uma antologia baseada nas lendas urbanas (e mitos rurais) de Moçambique, fazendo uma homenagem ao imaginário popular e/ou folclore moderno do país. A chamada é extensiva, também, para escritos de terror (sobrenatural ou não, psicológico, suspense e outros subgéneros) que tenham Moçambique como cenário. Serão escolhidos 13 contos, em referência ao número 13, obviamente amaldiçoado, segundo a crença popular.

Os textos deverão ser enviados entre os dias 25 de Julho e 25 de Setembro. Cada autor poderá enviar apenas um conto, com um limite de 15 páginas (veja o regulamento). O livro contará com a curadoria dos escritores Lucílio Manjate e Pedro Pereira Lopes.

Esta iniciativa conta com o apoio da Casa do Professor, da plataforma Mbenga – artes e reflexões, do Diário de uma Qawwi, do sarau Palavras são Palavras e do Clube de Leitura de Quelimane.

Para mais detalhes veja o cartaz da chamada e o regulamento.

Regulamento


1 Participação


1.1 A chamada destina-se a escritores moçambicanos. Os participantes devem ser maiores de 18 anos e residentes em Moçambique. Podem participar escritores com e sem obra publicada.

1.2 A inscrição é gratuita e nenhum valor será cobrado aos inscritos em nenhuma fase do projecto.

 
2 Orientações


2.1 Só publicados contos inéditos. Aos autores seleccionados será exigido um termo de responsabilidade e autoria.

2.2 Os textos deverão ser encaminhados para o e-mail galagalalivros@gmail.com, com a seguinte epígrafe no assunto: LENDAS URBANAS E CONTOS DE TERROR. No mesmo documento, a seguir ao texto, deverá ser apresentada uma breve nota biográfica, de até 8 linhas.

2.2.1 Os textos deverão ser enviados em formato Word (não aceitaremos PDF), espaçamento 1,5 entre linhas; fonte Times New Roman (12); O conto precisa ter o título e o nome do autor  (nome que irá aparecer no livro) no início do documento; O conto deve ter um máximo de 15 laudas.

2.2.2 Para os diálogos, deverá ser utilizado o símbolo de travessão.

2.2.3 Inscrições e textos que não obedecerem o formato serão automaticamente desclassificados.

2.3 Cada autor poderá inscrever só 01 (um) conto.
2.4 Não serão aceitos contos que incitem, glorifiquem, defendam ou demonstrem de forma positiva: estupros, uso de drogas, racismo, LGBTfobia e preconceitos no geral.

3 Publicação


3.1 A antologia terá até 13 (treze) contos participantes. Dentre os quais, aqueles escritos pelos autores seleccionados através desta chamada, podendo haver a participação de autores convidados pela Gala-Gala Edições.

3.2. A selecção final dos textos inscritos será da responsabilidade dos escritores e contistas Lucílio Manjate e Pedro Pereira Lopes.

4 Direitos autorais

4.1 Todos os autores receberão dois exemplares do livro impresso podendo, também, adquiri-lo com desconto de 30%.

5 Disposições finais

5.1 Nos limitamos a não justificar o motivo da não selecção do conto.

5.1.1 O(a) participante se responsabiliza por responder isoladamente em caso de plágio e afins.

Livros

CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – ANTOLOGIA POÉTICA “BLASFÊMEAS – SANGUE E VERBO”

Noémia de Sousa, a “Mãe dos poetas moçambicanos”, no seu icónico poema “Súplica”, grita: “Tirem-nos tudo/ mas deixem-nos a música!” E se a Noémia tivesse dito POESIA? É evidente que música também é poesia. Voz densa e afiada, que representa a resistência da mulher moçambicana [e negra e africana], Noémia inspirou e continua a inspirar poetas de várias gerações. Moçambique, “Pátria de poetas”, ainda fez nascer e ouvir as vozes de Glória de Sant’anna, Clotilde Silva, Sónia Sultuane, Lica Sebastião, Emmy Xis, Rinkel e, mais recentemente, Hirondina Joshua e Énia Lipanga, entre pouquíssimas outras.

Esta chamada, iniciativa da Gala-Gala Edições, visa dar a conhecer o trabalho de novas vozes da poesia escrita por mulheres em Moçambique, para quem, a poesia e a música fizeram sempre parte do seu quotidiano, mas não antes tiveram a oportunidade de publicar em livro. Por isso “BlasFêmeas”, pois queremos que este seja um acto de heresia, de emponderamento, de liberdade, de pôr as novas poetisas [ou mesmo poetas] a declamarem sobre os seus amores, as suas liberdades, lutas e direitos.

O subtítulo, “Sangue e verbo”, é igualmente inspirado em Nóemia [“Sangue negro”], que faleceu aos 76 anos, em 2002, e presta-lhe homenagem. A antologia publicará 2 poemas de 38 novas autoras, em edição imprensa, entre Dezembro de 2022 e Março de 2023. Para tal, cada autora deverá enviar 2 poemas de, no máximo, 4 páginas. A selecção final das contempladas será escrutinada pelas poetisas Sónia Sultuane e Emmy Xis, que assinam a curadoria.

Os textos deverão ser enviados para o e-mail galagalalivros@gmail.com, com a epígrafe no assunto: ANTOLOGIA BLASFÊMEAS. No mesmo documento, a seguir os poemas, deverá ser apresentada uma breve nota biográfica, de até 8 linhas.

A chamada é somente válida para autoras que ainda não publicaram livros. Podem ainda participar poetisas anteriormente antologiadas. As autoras seleccionadas serão comunicadas por correio electrónico e receberão duas cópias do livro.

Os materiais poderão ser enviados entre os dias 20 de Julho e 20 de Setembro, dia de nascimento de Noémia de Sousa. Não serão consideradas inscrições fora deste prazo.

Esta iniciativa conta com o apoio da Casa do Professor, da plataforma Mbenga – artes e reflexões, do Diário de uma Qawwi, do sarau Palavras são Palavras e do Clube de Leitura de Quelimane.

Para mais detalhes veja o cartaz da chamada.

Outras maravilhas humanas

PRÉMIO CHAKWERA PARA DISCURSO PÚBLICO

O Prémio Chakwera para Discurso Público é um concurso anual que convida cidadãos dos 16 Estados Membros da SADC para apresentarem áudios gravados, articulando as suas ideias inovadoras para reforçar a unidade Pan-Africana.

O concurso em estreia irá decorrer de Julho a Agosto de 2022 e para este ano os termos e condições de participação são os seguintes:

CONTEÚDO

1.     Cada submissão deverá ser feita em formato de discurso gravado em áudio, com a duração máxima de 5 minutos, o qual o candidato efectuou perante uma audiência ao vivo de não menos de 10 pessoas.

2.      Cada submissão deverá incluir o texto do discurso gravado.

3.      Cada submissão deverá alinhar-se com o tema “Integração Regional”.

4.      Cada submissão deverá ser efectuada em Inglês ou Francês ou Swahili ou Português.

5.      Cada submissão deverá ser original e inédita.

6.      Cada submissão deverá  ser feita por um único candidato, uma vez que cada candidato será autorizado a submeter apenas uma candidatura.

ELIGIBILIDADE

1.      Podem participar todos os cidadãos da SADC, residentes na região da SADC ou na diáspora.

2.      Cada candidato deverá indicar o país da SADC do qual é cidadão e apresentar uma cópia do Documento de Identificação (B.I) como prova do mesmo.

O PRÉMIO

1.      O vencedor do Prémio Chakwera para Discurso Público receberá um prémio monetário no valor de $4,000.

2.      O vencedor do Prémio será apurado através de uma combinação de pontos acumulados por votação pública, pontos acumulados por um painel de jurados especializados, e pontos acumulados por Sua Excelência o Presidente Chakwera.

DATAS

1.      Submissões: 1 a 30 de Junho de 2022 (prorrogado até 22 de Julho de 2022)

2.      Cerimónia de Entrega do Prémio: Agosto de 2022, durante a cimeira dos Chefes dos Estados da SADC

COMO SUBMETER

Envie a sua submissão para: submissions@chakweraprize.com

Material a enviar.

1.      Um áudio do seu discurso gravado em formato MP3.

2.      Um guião do seu discurso em Times New Roman, tamanho de letra 12 e espaçamento duplo.

3.      Uma fotografia do candidato (a) com a audiência, no momento da realização do discurso.

Resenhas

Oitentanoventa: entrevista com Marcelo Panguana

As conversas da iniciativa OitentaNoventa estão de volta!

Nesta sessão (12 de Maio de 2022), Álvaro Taruma, poeta, senta-se, para, numa conversa informal conversar com Marcelo Panguana, escritor, jornalista, cronista, crítico literário, autor de livros como “Como um louco ao fim da tarde” (2010) ou “Conversas do fim do mundo” (2012). Nesta conversa, Panguana fala sobre o seu medo em escrever poesia, sobre o que o move a acreditar na literatura e o que ainda há por publicar.

Marcelo Panguana nasceu, em Maputo, em 1951. É escritor, jornalista, cronista e crítico literário. Publicou dentre várias obras “As Vozes que Falam de Verdade” (1987), “A Balada dos Deuses” (1991), “O Chão das Coisas” (2004), “Como um louco ao fim da tarde” (2010) e “Conversas do fim do mundo” (2012). Foi agraciado com o Prémio FUNDAC Rui de Noronha com a obra “Como um louco ao fim da tarde”.

Sobre o entrevistador:

Álvaro Fausto Taruma, poeta, nasceu em Maputo. Publicou “Animais do Ocaso (Editora Exclamação, 2021), “Matéria Para Um Grito” (Cavalo do Mar, 2018) e “Para uma Cartografia da Noite” (Literatas, 2014). Com “Matéria Para Um Grito” foi galardoado com o prémio BCI de Literatura 2019. Para António Cabrita, Taruma, que é formado em Sociologia e Antropologia pela Universidade Pedagógica em Maputo, é um dos nomes cimeiros da actual poesia moçambicana.

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