Desabafo de uma qawwi

#28| Pode o Estado obrigar-me a evacuar em caso de emergência?

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Imagem: causa operaria

Uma das minhas maiores dificuldades continua a ser o sono. Tornou-se necessidade biológica. Sabe muito bem que dependo dele. E mesmo assim, tem a mania de adiar-se. De deixar-me no abandono. Quando isso acontece, normalmente pego no livro da cabeceira, ou então ligo a TV, a qual esta noite acabei por optar.

As notícias reportam mais um desastre natural. Céus quebrados de cinza, cidades turvadas de vento, águas galopando com fúria pelas alturas e submundos, puxando tudo o que é vida para o breu da morte. Dói o meu coração. Como se atravessado pelas lâminas das arraias que lutam por alento.

O país onde estou, também já sofreu este tipo de desastres. O rescaldo dos mesmos deixou-me com alguns questionamentos, os quais esta noite voltam à tona: a ajuda que o chamado Governo deve prestar aos cidadãos. A eficácia das evacuações, quando de carácter obrigatório.

No meu planeta, isto nunca poderia ser questionado. Aquando da terrível queda da cortina de vidro, por exemplo, bastou os trombones dispararem com a comunicação do Conselho da Unidade, para os qawwis obedecerem a recomendação de ficarem em casa. Somos um só, e a voz do nosso rei, nunca contrariou a nossa própria vontade. Pelo menos até aquele tempo.

No planeta terra, entretanto, as coisas funcionam de forma diferente. Para conviver em sociedade, os homens abdicam um pouco da sua liberdade. É tudo institucionalizado e é preciso que os direitos e deveres estejam claramente definidos e proclamados. Aliás, é essencial, porque grande também pode ser a tirania. É neste sentido, que o direito ao domicílio e residência é um direito “fundamental”.

Em casos como este, de emergência ou de perigo de vida causado por calamidades naturais, julgo que deve olhar-se por um lado para o direito dos cidadãos a permanecerem no seu domicílio, e por outro lado, a responsabilidade do Estado de proteger estes mesmos cidadãos.

Em alguns países, existem leis que permitem explicitamente evacuações forçadas em caso de emergência. Acontece, entretanto, que a implementação desses esforços tende a ser complicada. Às vezes, as pessoas não respondem às medidas de evacuação. Pelas mais diversas razões. Algumas não recebem a informação. Outras, tem receio de abandonar as suas casas e os seus bens. Algumas talvez já tenham enfrentado situações semelhantes e julgam que conseguirão sobreviver a mais uma. O problema é que estas pessoas podem, mais tarde, precisar efectivamente de socorro, situação que poderia ter sido evitada.

Que direito deve prevalecer? Mesmo estando em perigo, posso optar por permanecer em casa? ou o Estado pode usar da força para tirar-me de lá? Olhando para Moçambique, por exemplo, quando afectado pelo ciclone Kenneth, o Governo e as agências de ajuda disseram que 30 mil pessoas foram levadas para locais seguros e que um total de quase 700 mil estariam em risco. Foram criados 20 centros de evacuação em Pemba, mas foram necessários aviões, pois muitas das áreas afectadas não eram acessíveis por terra. In Jornal o pais.

Reportou-se, ainda assim,  que algumas pessoas recusaram-se a abandonar as suas casas.

Alguns estudiosos humanos argumentam que usar da força para tirar alguém do seu domicílio, sem um processo legal, constituiria a violação de um direito fundamental. O documento chamado “constituição da República” em vigor em Moçambique, diz que o domicílio do cidadão é inviolável, salvo nos casos previstos na lei. A entrada no domicílio dos cidadãos contra a sua vontade, só pode ser ordenada pela autoridade judicial competente, nos casos e segundo as formas especialmente previstas na lei.

Ora, neste mesmo documento a que me refiro acima, fala-se dos estados de sítio e de emergência. Estes podem ser declarados, no todo ou em parte do território, nos casos de agressão efectiva ou eminente, de grave ameaça ou de perturbação da ordem constitucional, ou de calamidade pública. Nestas situações, pode ser suspenso ou limitado o exercício de algumas garantias e direitos constitucionais. O Governo pode, por exemplo, tomar algumas medidas restritivas como a obrigação e permanência do cidadão em local determinado.

Desta forma, parece aceitável que em caso de declaração de estado de emergência, o Governo tenha a prerrogativa de forçar a evacuação. Mas como tal depende de um processo fundamentado, o mais importante antes de qualquer medida forçada, é a antecipação e conjugação de esforços, a disseminação de informação e sensibilização dos cidadãos. Afinal de contas, estamos a falar do bem mais precioso que é a vida. É necessário todo o cuidado. E todas as medidas e prioridades devem ser para assegurar a preservação desta mesma vida.

… respiro. Desligo a TV. A noite quente arranca da lua um intenso gemido. Todos nós estamos sujeitos às forças da natureza. A qualquer momento, podemos enfrentar uma situação de contratempo. Ao pensar nisso, pego numa caneta, pois acaba de surgir-me uma outra questão. Será que agora, como humana, estou equipada para enfrentar uma situação de emergência? Será que, por exemplo, tenho tudo em casa para, em caso de necessidade, aguentar-me uma semana sem ir às ruas?

Outras maravilhas humanas

Evento|“Eita Casei”, de Whindersson Nunes em Moçambique| Opinião

Aconteceu no dia 6 de Abril, no centro cultural da UEM, na cidade de Maputo. A promessa era de iniciar às 19:00 horas, mas o palco só iluminou-se por volta das 20:20. Pode ser, talvez, porque o artista estivesse ainda a preparar-se, ou então, por causa da organização e logística para albergar a audiência, já que a fila de pessoas que foram ver o show do humorista e youtuber brasileiro Whindersson Nunes, parecia interminável.

O atraso, entretanto, acabou sendo compensado pelo carisma e simplicidade de Whindersson que foi logo conquistando e arrancando calorosas gargalhadas do público.

Whindersson Nunes trouxe à Maputo o seu novo show “Eita, Casei”, inspirado no seu casamento com a cantora Luísa Sonza, que aconteceu em Fevereiro do corrente ano. O stand –up comedy faz parte de uma turné internacional que culminou em Moçambique.

Whindersson interagiu com o público com facilidade, trazendo um cesto de piadas agradáveis e despretensiosas, que revelaram um quotidiano particularmente seu, que entretanto, não deixa de reflectir vários aspectos da sociedade, sobretudo no que se refere a diferenças sociais e à vida normal de um recém casado. O show de Whindersson é repleto de referências a outras celebridades brasileiras, tais como o apresentador Luciano Hulk e o jogador Neymar.

Alguns artistas não conseguem distinguir a barreira entre a pura brejeirice e o sublime humor, mas esse não parece ser o caso de Whindersson, pese embora, quem o conheça melhor, diga que ele esteve muito comedido e avaliou de antemão o público, refreando-se no quesito palavrões.

Os efeitos sonoros e a iluminação foram simples, mas bem executados. A organização, entretanto, deixou algo a desejar.

Em suma, ficamos com a impressão de que o público moçambicano vibrou e aprovou o show de Whindersson.

O comediante nasceu em Piauí e foi recentemente eleito pelo Google como a personalidade mais influente do Brasil. Whindersson é um dos youtubers mais conhecidos do mundo e já alcançou a marca de 35 milhões de inscritos no seu canal do YouTube, almejando agora a placa de rubi, para a qual precisa de 50 milhões. Se alcançar, ele será o segundo youtuber com a placa de rubi, a seguir ao sueco Pewdiepie.

Canal de Whindersson

A nossa classificação: 4 de 5 estrelas

Outras maravilhas humanas

Moçambique Top 8: se ainda não ouviu – vale a pena ouvir

Aquando da compilação de algumas curiosidades sobre Moçambique (veja aqui 12 Factos que você desconhece sobre Moçambique) o primeiro país onde aterrou a nossa qawwi, muitos leitores trouxeram à nossa atenção um aspecto que ficou por ser ressaltado: a qualidade e as circunstâncias de algumas músicas que prestigiam o país.

Com efeito, os leitores relembraram-nos que Moçambique serviu de inspiração para músicos como Bob Dylan, com o tema que leva o mesmo nome e que pode considerar-se uma serenata ao país (álbum Desire – 1976):

Mile Davis, que criou “Catembe” para o álbum Amandla, de 1989:

https://www.youtube.com/watch?v=c8hqk2zF2G4

Bob James e David Sanborn, que fizeram o tema “Maputo”, para o seu álbum “Double Vision”, lançado em 1986:

Avante.

No post de hoje, iremos partilhar alguns temas produzidos por artistas do país, contemporâneos, alguns não tão conhecidos como os acima mencionados, mas igualmente fabulosos. Ou seja, se por alguma estranha razão cósmica você ainda não os conhece, prossiga com a leitura para matar a curiosidade.

Continuando: problemas cósmicos a parte e sujeito à apreciação subjectiva de cada um de vocês, acreditamos que os temas abaixo compilados, também exaltam a qualidade musical e de facto, valem a pena ser escutados.

Vamos conferir?

  1. Wene – Banda Kakana

A banda Kakana há muito que conquistou os corações dos moçambicanos. Temas como “Xiluva” e “Serenata” tornaram-se hinos de referência. A música “Wene”, um pouco mais recente que estas outras, continua a espelhar-se no estilo que cativou os apreciadores da banda. Confira:

  1. Apelamos a paz – Ronny Felipe

Para além do facto de ter um vídeo clip bastante emotivo, ressalta neste tema a relevância do apelo que não deve ser esquecido e a linda guitarra acústica. Confira:

https://www.youtube.com/watch?v=-4b8MPDL0N8

  1. Te Kizombar – Dom Kevin

Relativamente novo no espaço musical, Dom Kevin já promete arrancar suspiros dos amantes deste género. Confira:

  1. Mozambique – Selma Uamusse

A voz maravilhosa desta artista e a intensidade dos instrumentos nesta contagiante música, não permite nenhum coração ficar parado. Toca a vibrar o som do belo Moçambique.

https://www.youtube.com/watch?v=pvFk6l-TK6A

  1. Egumi Yah África – Emerson Ft Mazu

Poesia e reflexão, rimas e contrastes, são os pontos que convergem nesta agradável melodia com forte presença de instrumentos locais. O tema é interpretado pelo advogado e cantor EmerSOM, em colaboração com Mazu. Confira:

  1. Wansati – Rodhália Silvestre

Não é por acaso que a cantora venceu há pouco o prémio de melhor voz no festival Ngoma Moçambique 2018. É uma voz para lá de potente! Confira:

  1. Without you – Betto Jason

É difícil não nos apaixonarmos pelo saxofone neste tema. Para não falar do subtil, mas intenso coro de apoio. “Without you” é óptima para ouvir num momento mais descontraído, de preferência com um copo de vinho ao lado. Definitivamente das nossas preferidas. Ouça:

  1. Moya – Isabel Novella

Com a carreira lançada a nível nacional e internacional, Isabel Novella tem uma das vozes mais doces do país. A mistura de estilos e de línguas neste que é um dos seus primeiros temas, confere-lhe bastante originalidade. Nunca cansa. Ouça:

Gostou das nossas sugestões? Deixe os seus comentários e não se esqueça de subscrever ao blog ou de seguir-nos via facebook para acompanhar as novidades: https://www.facebook.com/qawwi.reviews

Outras maravilhas humanas

Mércia de lutas e sonhos – por Jorge Ferrão

Quando o dia terminar e, o sol tropical não tiver mais cores para projectar, na imensidão de todas as superficies e montanhas , nos lagos e baías, nas florestas e nos Palmares, não nascerá somente um novo dia, mas a vontade de lutar e vencer de quem faz da vida uma bandeira, do estudo um trunfo, das oportunidades um espelho. Gostaria de ter dito estas e outras palavras a Mércia. Jovem menina da UP Maxixe, estudante de leis e interpretações jurídicas, que acredita em Deus e, entende que Deus jamais escreve torto por linhas direitas  ou ,igualmente, torto em linhas tortas.

Ninguém é perfeito. Frase secular que, nem por isso,  revela o tamanho da perfeição. Existem milhões de pessoas que não tendo deficiência, alguma e aparente, possuem outras deformações. Mas, existem os que tendo uma deficiência, sequer são notados e parece viverem sem nenhuma. Vivem como batalhadores e, se auto- superam a cada dia e minuto de suas vidas. Vivem como se o dia fosse o último e só sabem fazer bem e assertivamente!

Mércia , essa jovem estudante natural da Massinga e estudante de Direito, nossa estudante, já no quarto ano e com metas bem definidas, veio para o mundo sem os braços. Complicações congênitas. Nunca se intimidou e, vitoriosa, escreveu sua própria trajetória. Agradece a Deus pela graça e dom da vida e, supera as adversidades, como se a vida não tivesse obstáculos.

Trato fácil, sorriso desmedido, franzina,  e caprichosamente questionante, Mércia nos ensina que os sonhos não tem limites, que os atributos mais nobres serão sempre o carisma, a inteligência e o charme. Fala de tudo um pouco, quer visitar a Itália, aprender italiano, trabalhar e ajudar outras crianças para que a educação inclusiva seja educação e não projecto. Mércia quer ser solidária e activista de causas. Solidarizar o natal de todos os meninos e, como recompensa, apenas quer um sorriso.

Conviver com um estudante, faz de nós aprendizes. Com dois estudantes, nos transforma em seus admiradores, porém vivenciar e testemunhar o percurso de perto de 60 mil estudantes, de todas as origens e desejos, nos transforma em verdadeiros seguidores.  Caçadores de talentos e profecias. Dos meus estudantes eu aprendo, a cada dia, muito mais que o sentido hermenêutico das palavras, mas o valor das suas ações, o fascínio dos seus sonhos e o delírio das suas convicções. Vivo nesta escola cujo sumário parece ser o mesmo, porém, o recital nunca se faz com o mesmo refrão.

Por estes dias vivi, com intensidade as graduações e as vontades de triunfo, de buscar, de trabalho, de afirmação profissional. Escutei juramentos e centenas de recados. Jovens de um país, onde 60% da população tem menos de 25 anos de vida. Intelectuais que travam uma luta tenáz contra as oportunidades e as tecnologias. Mércia, Foi das que mais me impressionou. Entendo, também, que o Chefe de Estado a tenha visitado na sua própria residência e oferecido um laptop, que ela usa com orgulho. Aliás, Mércia dispensa apresentações, mas, acredito, que conhecemos uma jovem de Facebook e não de alma, uma lindíssima menina de notas brilhantes, mas desconhecemos a profundeza do seu talento.

Os livros nos ensinam o sentido da idade, razão, identidade e o mundo. Não podem ensinar tudo. A experiência e o tempo são outros professores. Livros e vida combinados são imbatíveis gestores da nossa trajetória! Estou grato pelo que pude apreender da Mércia. Ela já é um símbolo incontornável da UP, mas, breve, será esse mesmo símbolo para os jovens da sua idade e com as deficiências das quais padecem! Mércia será a líder do passado que quisemos construir, do presente que ajudamos a transformar, e desse futuro de sonhos e realizações e de lutas e sonhos realizáveis!

Texto de Jorge Ferrão

 

Outras maravilhas humanas

12 Factos que você desconhece sobre Moçambique

4 mins – leitura

Quem acompanhou o episódio de estreia do “desabafo de uma qawwi” aqui no blog, sabe que Moçambique foi o primeiro lugar onde a nossa qawwi aterrou. O país está localizado no Sudeste de África e é banhado pelo oceano índico. Fala-se dele. Muito e pouco. Coisas boas. Outras nem tanto. Mas hoje, reunimos factos e curiosidades, que provavelmente você não saiba sobre este país. E se sabe, vale a pena revê-los 🙂

Iniciemos então o ranking do nosso top 12 de hoje?

12 – Joana Balaguer morou em Moçambique

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Alguém lembra-se da Jacqueline de malhação (temporada de 2005)? Em determinada altura, a ex-actriz de malhação morou em Maputo, capital de Moçambique. O artigo abaixo descreve a rotina dela durante essa época e as impressões que teve.

 

 

 

Imagem via revista Ego

http://ego.globo.com/gravidez/noticia/2014/02/morando-na-africa-joana-balaguer-fala-sobre-carreira-nao-larguei-nada.html

11- A primeira dama de Cabo Verde é Moçambicana

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Imagem via WACC

Chama-se Lígia Fonseca e nasceu em Moçambique, na cidade da Beira, a 24 de Agosto de 1963

10 – A primeira e única pessoa no mundo a ser primeira dama de dois países diferentes é moçambicana

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Imagem via Raymond Suttner

Graça Simbine Machel, política e activista dos direitos humanos, foi a primeira-dama de Moçambique, quando casou-se com Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique, morto em 1986 e foi a primeira dama da África do Sul, quando casou-se com Nelson Mandela, em 1998, o primeiro presidente negro da África do Sul, falecido em 2013. Pelos casamentos, segundo o Guinnes Book, Graça Machel tornou-se a única pessoa no mundo a ser primeira-dama de dois países diferentes.

http://www.guinnessworldrecords.com/world-records/first-female-to-be-first-lady-of-more-than-one-country/

9 – Tema de músico moçambicano fez parte da trilha sonora de “The Pledge”

O tema “Nwahulwana” do músico Wazimbo é mundialmente conhecido. Entre outras razões, o mesmo foi escolhido para fazer parte da trilha sonora do filme americano “The Pledge” (A Promessa), de 2001. Veja a cena onde corre a música:

8 – Beyoncé é fã dos Tofo Tofo

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Parece um fairytale. A cantora norte americana Beyoncé viu no youtube a dança dos Tofo Tofo e ficou deslumbrada. Jurou para si mesma que tinha de ter aquela coreografia no videoclip de “who runs the world”. Custasse o que custasse. Para isso, mandou chamar os melhores coreógrafos do país, mas nenhum deles foi capaz de reproduzir a mágica coreografia. Sem grandes opções, colocou a sua equipe em busca dos Tofo Tofo, e por fim encontrou-os. Em Moçambique.

 “What’s your name?” – perguntaram eles à anfitriã, quando chegaram aos Estados Unidos.

 “I’m Beyonce” – respondeu simpática, a estrela do R&B.

 “My English is bad, but my will is good”[1] – foi um dos comentários do representante dos dançarinos que levou os internautas ao rubro. Não é para menos, é muito talento e muita graça!

 Confira a história neste vídeo.

https://www.youtube.com/watch?v=UEdFczGMo98

[1] O meu inglês é mau, mas a minha intenção é boa.

7 – Moçambique mencionado em musical da Broadway

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Imagem via Trib.com

Trata-se de “the Addam’s Family”, um maravilhoso musical da Broadway, estreado em 2010, que conta a história da família mais esquisita de todos os tempos. Um dos temas do musical, intitulado “Crazier Than You”, tem algo bastante interessante na letra. Provavelmente mais para fins estéticos e de rima, mas mesmo assim, não é todos os dias que o nome do país escala à Broadway.

“I wanna climb Mt. Everest go to Mozambique”[1] canta o personagem Lucas à namorada Wednesday, num palco repleto de estrelas, luas e mãos que se movem sozinhas. Querido Lucas, nós também queremos!

 Confira a música aqui:

[1] Quero escalar o monte Everest, ir à Moçambique.

6 – Moçambique serve de cenários para vários sucessos de bilheteria de Hollywood

Filmes como “Ali” (Will Smith), “A Intérprete” (Nicole Kidman) e Blood Diamonds (Leonardo Dicaprio) tiveram cenas filmadas em Moçambique. Aliás, os actores protagonistas não são as únicas celebridades da TV que visitaram o país. Reinaldo Gianecchini, Alexandre Borges, Priscila Fantin e Bruno Lopes, actores brasileiros, também estiveram muito recentemente em Moçambique.

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Imagem via Sapo

5 – Cineasta moçambicano foi nomeado júri nos Óscares

CINEASTAMOCAMBICANOEMHOLLYWOODImagem via jornal o país

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pela atribuição das estatuetas Óscar, convidou este ano (2018) o cineasta moçambicano, Pedro Pimenta, a ser membro do júri. Saiba mais no artigo abaixo.

http://opais.sapo.mz/cineasta-mocambicano-pedro-pimenta-na-academia-de-hollywood

4 – Anantara Medjumbe Island Resort – hotel de ilha mais bonito do mundo

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Imagem via CNN Travel

E por falar em Leonardo Dicaprio, dizem que quando ele visita Moçambique, passa férias numa ilha discreta, sem que ninguém se sequer se aperceba. Verdade ou não, o facto é que algumas praias do país são simplesmente espetaculares. O resort de uma das ilhas do arquipélago das Quirimbas, no norte do país, foi listado em 2º lugar, no top 15 da CNN, de resorts de praias mais bonitos do mundo! Confira as restantes ilhas no artigo abaixo.

https://edition.cnn.com/travel/article/most-beautiful-island-hotels/index.html

3 – Galinha a zambeziana em 12º lugar na lista das melhores comidas do mundo

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Imagem via CNN Travel

Pois é, um dos melhores pratos do mundo, segundo a CNN, é o moçambicano frango à zambeziana. Para ver as outras comidas, confira o artigo abaixo.

https://edition.cnn.com/travel/article/world-best-food-dishes/index.html

2 – Moçambique tem a maior ponte suspensa de África

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Imagem via Sicnoticias

A ponte inaugurou no último sábado (10 de Novembro de 2018) e é actualmente a maior ponte suspensa do continente africano.

https://pt.euronews.com/2018/11/09/mocambique-inaugura-maior-ponte-suspensa-de-africa

https://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2018-11-09-Maior-ponte-suspensa-de-Africa-vai-ser-inaugurada-em-Maputo

1 – Floresta virgem

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Imagem via Jornal Notícias

Já imaginaram um lugar, nos dias de hoje, inexplorado e intacto pelos humanos? Esse lugar existe. Trata-se de uma floresta virgem, encontrada este ano (2018) por cientistas e pesquisadores. A floresta está escondida no topo do monte Lico, na Zambézia, província de Moçambique e foi descoberta pelo professor Julian Baylis, da Universidade de Oxford, através do Google Earth.

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Imagem via The Guardian

Mais detalhes nos links abaixo:

http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/tecnologias/78816-cientistas-descobrem-floresta-virgem-na-provincia-da-zambezia

https://www.theguardian.com/world/2018/jun/17/mozambique-mount-lico-rainforest-new-species

Então? Alguém está a pensar em visitar Moçambique? Sabem de outros factos e curiosidades que deviam estar aqui? Deixem os vossos comentários e não se esqueçam de seguir-nos no facebook: https://www.facebook.com/qawwi.reviews

Dicas, Opiniões, Yummy Food

Food |Mimini de Peixe – Restaurante Sal & Grafia – Uma Deliciosa Gastronomia Moçambicana| Review

YUMMY FOOD

Na correria típica dos humanos, quando chega a hora das refeições, domina a pressa e procuramos um local de fácil acesso, observando sempre a relação qualidade/preço. Tanto para quem vem de visita e está num ritmo mais calmo, como para os residentes atarefados, Maputo oferece várias opções. Um dos primeiros lugares visitados pela nossa tripulação nesta cidade, foi o restaurante Sal & Grafia, na Fundação Fernando Leite Couto. Mal entramos, já damos um maravilhoso mergulho num bar de cocktails e de livros, e depois, adentramos numa colorida e fresca esplanada. Se estiver mau tempo, podemos optar pelo interior que é aconchegante, e de brinde ver alguma arte em exposição. A experiência é agradável. O Sr. Francisco, de sorriso incansável, assegurou que o serviço (prato do dia) fosse entregue em pouquíssimos minutos. Aliás, todo o pessoal do restaurante é impecável. Mas a verdadeira estrela do dia, foi e é sem dúvida o mimini de peixe.

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Menu das quartas-feiras, este prato é económico e vale a visita. A base de peixe, mandioca, molho de coco e especiarias, a suavidade do mesmo mantém-se intensa na memória. Alguém terá dito tratar-se de uma variação de um prato típico do Norte do país. O menu destaca-se também pelas interessantes propostas de doces tradicionais. O “memória da cozinha”, que envolve sorvete de malambe, linfete, fiosses e matoritori é uma boa aposta para quem gosta de sabores fortes. Confessamos que o doce não nos impressionou tanto, pois os fiosses tinham um caldo ligeiramente pesado (da próxima iremos pelo “delícia moçambicana”). Mas de resto, revelou-se uma boa aposta. Então já sabem, se estiverem pelas bandas, numa quarta feira e em busca de um local para almoçar, experimentem esta delícia gastronómica. Não se irão arrepender.

Sal & Grafia

A nossa pontuação: 4 em 5 estrelas

[Onde: Avenida Kim Il Sung, 951

Info: http://www.fflc.org.mz/por/Sal-Grafia]

Livros, Opiniões

Literatura |”Em busca do mar certo” de Cri Essencia|Opinião

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Título: Em Busca do Mar Certo

Autora: Cri Essência

Editora: Alcance

http://www.alcanceeditores.co.mz

Sinopse

 “Após a morte da mãe, ainda que sem dinheiro para continuar com os estudos, decidiu não voltar para Moçambique. Preferiu navegar por marés desconhecidas, em busca do pico mais alto da sua existência. Sabia que voltar para casa era um dado adquirido, mas tencionara adiar tal regresso, para que não tivesse de se confrontar com o irmão, na luta pela herança que a mãe deixara. Longe do luxo a que se habituara, ajoelhando-se para limpar casas de banho de outrem, encontrou amor próprio numa nova dimensão.”

Opinião:

Uma capa esmerada é meio caminho para se conquistar um leitor. Esta premissa funcionou bem na ilustração desta capa, a qual captou de imediato a nossa atenção na prateleira da livraria. O romance (semi-biográfico), traz-nos a história de Paula Chonguene, uma corajosa moçambicana de coração aberto e malas cheias de esperanças, que decide aventurar-se pela Europa, experimentado os caminhos incertos de um imigrante. Desde a feitiçaria como motivo de desavenças familiares, até aos preconceitos e choques entre culturas quentes e frias, a autora confronta com honestidade crua, os dramas e os buracos negros dentro das nossas sociedades.

Há muitos personagens que compõem o mundo de Paula Chonguene, mas alguns  acabam por tornar-se silenciosos ou distantes ao longo da trama. Miguel e James são  exemplos. Todavia, o afastamento de James (par romântico de Paula) parece servir para permitir o desenvolvimento da protagonista.

Durante a narrativa, percebem-se também algumas pausas em que a protagonista mergulha em reflexões e analisa do seu ponto de vista a condição de quem vive na diáspora e os desafios que enfrenta, a condição de uma mulher que busca independência, e por fim, a condição do próprio ser humano. As reflexões fazem uma incursão pela história dos países europeus que a protagonista visitou, o posicionamento destes com relação aos estrangeiros, rumando à debates teológicos e de ideologias sobre o comunismo vs individualismo. Embora estes momentos desviem-se um pouco do foco principal do romance, não comprometem a leitura, pois estão inseridos no contexto e no ambiente íntimos à protagonista.

Faltou uma melhor diagramação na obra, mas tirando isso, adoramos conhecer Paula Chonguene, uma mulher inteligente, difícil, amorosa e batalhadora, que aprecia vinhos, e que tem uma bagagem valiosa por partilhar (sem falar do final surpreendente do romance, licorzinho para aquecer o coração dos leitores mais românticos como nós).

Sobre a autora: Cri Essência nasceu em Maputo e estudou na Escola Secundária Francisco Manyanga. É jurista pela Universidade de Lisboa, mestrada pela University of Groningen e actualmente residente em Londres.

A nossa pontuação: 4 em 5 estrelas.

(A tripulação de Linan)

Desabafo de uma qawwi

# 1| Meticais, fiosses, eleições e outras complexidades humanas

Soltei-me do véu tecnológico e caí directo numa estrada em farrapos. Os raios alaranjados doeram-me na vista. Afinal, o sol dali era tão redondo quanto o outro. Distraída, mal dei pela criatura que se abeirou.

– Moça, está tudo bem?

Era um humano. Pude adivinhar pela barba. Mas de resto, não havia grande disparidade entre as espécies. A criatura continuou a emitir sons da sua boca.

– O seu braço está a sangrar moça… precisa de um hospital?

Ouvia-o, obviamente, mas não o compreendia. Então, agarrei-lhe pelo ombro. Um toque era suficiente para absorver-lhe a língua. A vibração de um novo idioma nascendo no meu cérebro fez cócegas, e finalmente respondi:

– Ora viva, humano! Estou óptima, não se preocupe, pode ir.

Alisei o meu origami e pus-me a andar. No esforço de perceber onde é que eu havia aterrado, senti os olhos desbulharem numa cortina de caos. A geometria das ruas, sinceramente, era uma fraca paródia das avenidas do meu planeta. Mantendo a boa educação, tentei saudar os humanos, com um abraço fraternal. E qual não foi o meu espanto ao vê-los rejeitarem-me? Alguns quase tropeçavam, só para esquivarem-se de mim. O que será que estava eu a fazer de errado? Averiguei-me e… hum! Ao contrário deles todos, eu tinha os pés descalços. Era só isso? Por sorte, avistei um edifício alto, com a vitrina de baixo recheada de sapatos. “Aberto”, assinalava um letreiro. Maravilha, eles tinham também vestuário de emergência! Puxei a porta e entrei. Nos mobiliários a abarrotar de raridades terráqueas, acabei encontrando algo. Nada semelhante as cantilhas de Setafanotis, mas davam jeito. Estava a calça-los, quando senti outra presença humana.

– Posso ajudá-la? – ela tinha uma vozinha contaminada de desconfiança.

– Bom dia humana, não é preciso, só entrei para levar estes sapatos.

– Humana é a sua mãe. E essas adidas são 3.000 Meticais.

Franzi o sobrolho. A linguagem daquela criatura era peculiar. Em primeiro lugar, a minha mãe não era humana nenhuma. Segundo, o que significava “adidas” ou então “são 3.000 meticais”? Mas como tinha pressa, decidi sair do edifício sem desvendar o mistério. Não tardou para a humana vir atrás de mim, toda esbaforida.

– Polícia! Uma ladra, a muyive! Peguem essa moça!

Com ela e com os gritos, seguiu-se uma multidão. Totalmente confusa, mas antevendo apuros, ergui os braços em frente ao corpo e em pouco tempo teletransportei-me para outro lugar. Dei por mim no meio de uma esfera em jardim, repleta de estátuas de pedra. “OMM” lia-se no monumento erguido no centro. O meu estômago trovejou. Era a tal fome. E agora? Não fazia ideia de que pudesse ser tão desconfortável.

– Xiquelene! Compone! Xiquelene!

Virei a cabeça e vi mais um humano. Pendurado à porta de um veículo que abarrotava de outros humanos, convidava-me a segui-lo. Aceitei a oferta. Até porque era um convite muito concorrido. Lá dentro, os movimentos respiratórios tornaram-se um desafio, em compasso de três: inspirar-expirar-batalhar. Inspirar-expirar-batalhar. Finda a batalha, consegui encostar-me à janela. A humana ao meu lado segurava um recipiente, e o aroma de trigo banhando em óleo pulsante como uma cascata, desceu-me ao estômago, em total hipnose.

– São fiosses minha filha, 20 meticais. Quer?

O cérebro prometeu-me uma avaria. “Números”, “meticais”. De novo?

– Você tem cara de estar faminta, minha filha. Pode tirar um, dou de graça.

Olhei para ela, perplexa. Havia outra forma, se não “de graça”? Estiquei a mão para o tal fiosse e fiz a primeira refeição do dia no planeta terra. A humana deu-me mais um, “de graça”. Ah, tivesse eu compreendido o significado daquele gesto!

Sabem, há algo agradável nas viagens colectivas. Por um instante, fazem-nos sentir imersos numa vasta união em partículas, tal e qual é o universo. Ademais, é uma óptima forma de assimilarmos novas línguas. Em pouco tempo, consegui descobrir o nome da cidade onde estava: Maputo. Aproximava-se um tal “feriado” e também umas tais “eleições autárquicas”. Eis o que percebi acerca do tema: as eleições tratavam-se de um jogo para escolher-se novos líderes. Às vezes acabava sendo mais ou menos como premir o botão de replay. Outras vezes, apareciam candidatos a simular que cantavam músicas, velhos clássicos, quando na verdade faziam um mero playback, isto tudo sem falar dos que eram interditos de usar o microfone. A meu ver, era um jogo muito mal pensando. Pela lua de Stefanotis, que planeta esquisito era aquele?!

– Moça, aqui é a terminal! – avisou o dono do veículo.

– Terminal? O que isso significa?

– São 10. Trocados, faz favor.

– 10?

– Hawena moça, vais reclamar de 10 Meticais?

De novo tinha uma multidão enfurecida atrás de mim. E aos poucos comecei a mergulhar na filosofia. Bem-vinda ao planeta terra, Linan, disse a mim mesma. O lugar onde nada acontece sem “meticais”, uma das muitas variações de “dinheiro”. Que a sorte estivesse comigo.

29 de Setembro de 2018

@Linan – todos os direitos reservados

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Livros, Opiniões

Literatura|”O barrigudo e outros contos” – Hélder Muteia”|- Opinião

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Título: O barrigudo e outros contos

Autor: Hélder Muteia

Editora: Alcance, edição de Maio de 2018

Opinião:

 A primeira vez que entrei em contacto com a escrita de Hélder Muteia foi no livro “Nhambarro, contos e crónicas”. Passam-se muitos anos e não lembro com precisão do seu teor (há não ser, talvez, o tom humorístico de alguns dos textos). Todavia, retive uma boa impressão. Foi por isso que busquei esta nova obra com grande expectativa.

O livro reúne cerca de trinta títulos. Ao contrário do que aconteceu com Nhambarro, esta obra remeteu-me à um sentimento mais melancólico do que qualquer outra coisa, pois o autor retrata de forma quase que exacerbada a dor e o sofrimento, com desfechos trágicos, um após o outro. Tirando esse senão, é uma leitura leve e rápida. A escrita do autor é agradavelmente acessível. Passo inclusive a citar Susana, uma moça simpática que estava no cabeleiro e que pediu-me para espreitar o livro. Leu um dos textos e comovida comentou: “é muito sentimental. Fala do nosso dia-dia”. Se não é função de um texto comunicar de forma emotiva com o leitor, então qual é?

Além de mostrar fragmentos do quotidiano e da realidade do país, alguns dos textos levam-nos a reflectir sobre circunstâncias problemáticas do nosso meio e a postura que adoptamos perante tais circunstâncias. Exemplos disso nos textos “se os homens fossem bons” (que aborda o fenómeno do linchamento), “a menina das pedras” (a história de uma criança que, como tantas outras, tem que trabalhar para poder estudar e sustentar a casa), “midinho” (a história de uma criança de rua), e “o homem feio” (retrato de intolerância / falsos padrões da sociedade).

Como leitora, também pude sentir diferentes nuances ao longo da obra. Os textos reservados para o fim são mais sólidos, com “Cármen” e “Balada para Susana” ricos em detalhes e imagens, a dialogarem connosco de forma bastante mais profunda, em comparação aos outros. De forma geral, apreciei a obra. A capa tem boa textura, arte minimalista que cumpre o seu objecivo. Diagramação satisfatória.

Sobre o autor: Hélder Muteia é membro fundador da AEMO, membro fundador do movimento literário Charrua e ocupou vários cargos no governo de 1994 a 2004. Desempenha actualmente funções de coordenador da FAO (ONU) para a África Central. Tem vários títulos publicados e obras traduzidas em inglês, francês, espanhol, italiano, russo e sueco.

A nossa pontuação: 3,8 em 5 estrelas.

(Por VF – da tripulação)