Outras maravilhas humanas

Maravilhas humanas | Birth of a New Age, canção de Jeangu Macrooy

Fonte Imagem: Wiwibloggs

Na categoria de maravilhas humanas, trazemos hoje nesta pequena resenha, a cancão “birth of a new age” do cantor Jeangu Macrooy, tema que concorreu recentemente no concurso de música Eurovisão 2021, representando a Holanda. O cantor surinamese Jeangu Macrooy, residente na Holanda, cantou esta música em inglês e na sua língua materna. Veja abaixo, uma parte da letra:

Your rhythm is rebellion / o teu ritmo é rebelião

They spat on your crown and they poisoned your ground / Eles cuspiram na tua coroa e envenenaram o teu solo

They burned your heroes at the stake / Eles queimaram os teus heróis na fogueira

But your voice will echo all their names / Mas a tua voz ecoará todos os seus nomes

They buried your gods, they imprisoned your thoughts / Eles enterraram os teus deuses, eles aprisionaram os teus pensamentos

They tried to drain you of your faith / Eles tentaram drenar a tua fé

But you are the rage that melts the chains / Mas tu és a raiva que derrete as correntes

This ain’t the end, no / Este não é o fim, não

It’s the birth of a new age / É o nascimento de uma nova era

Yu no man broko, broko mi (mi na afu sensi)

Ora, a frase “Yu no man broko mi, mi na afu sensi“ é baseada num antigo dizer surinamese que significa “sou apenas meio cêntimo, mas ninguém pode quebrar-me”. O meio cêntimo era na altura a moeda mais pequena. E este dizer significa: “podes pensar que sou pequeno e inferior, mas não posso ser destruído”.

Este belíssimo tema parece trazer diversos significados. Por um lado é dito que reflecte questões políticas e sociais, em resposta ao movimento “Black Lives Matter”, mas a nosso ver, reflecte também sobre o que aconteceu a muitos povos negros e africanos, e em última análise, de forma geral, inspira o empoderamento do ser humano.

Confira a canção no link abaixo:

Human wonderworks | Birth of a New Age, song by Jeangu Macrooy

In the category of human wonderworks, today we bring in this short review, the song “birth of a new age” by the musician Jeangu Macrooy, a theme that recently competed in the Eurovision music contest, representing the Netherlands. The Surinamese singer Jeangu Macrooy, who lives in the Netherlands, sings this song in English and in his mother language. Below, is an excerpt of the lyrics:

Your rhythm is rebellion

They spat on your crown and they poisoned your ground

They burned your heroes at the stake 

But your voice will echo all their names

They buried your gods, they imprisoned your thoughts

They tried to drain you of your faith

But you are the rage that melts the chains

This ain’t the end, no

It’s the birth of a new age

Yu no man broko, broko mi (mi na afu sensi)

Well, the phrase “Yu no man broko mi, mi na afu sensi” is based on an old Surinamese saying which means “I am only half a cent, but no one can break me”. The half cent was the smallest coin at the time. And this saying means: “you may think that I am small and inferior, but I cannot be destroyed”.

This beautiful song seems to bring several meanings. On one hand, it has been said that same addresses political and social issues, in response to the “Black Lives Matter” movement, but in our view, it also reflects on what happened to many black and African peoples, and, ultimately, in general, it inspires human’s empowerment.

Check out the song on the below link:

Cantinho da Qawwi

Um verso de (one verse by) Nick do Rosário

Fronteira do Silêncio

No teu rosto

teus dedos tristes

fronteira do silêncio

The Silence’s Edge

By your face

your sad fingers

The silence’s edge

Poema de Nick do Rosário – in Gaveta de Cinzas: Solilóquios

                                                                Livro publicado pela Gala Gala Edições, 2021

Desabafo de uma qawwi

#33 | De volta ao começo: vamos abrandar

Woman meditating

Imagem: Zeenedout

Vamos humano, desacelere o passo. Não é imperativo manter-se em pé, quando as pernas querem fraquejar. De outra forma, por quê haveria tanto medo? Há muitas horas no dia, para organizar a aula online das crianças, tratar as tarefas domésticas, partilhar a foto do pão caseiro no Instagram, e executar aqueles vinte burpees de modo a manter o físico.

Sim… há muito por fazer. E o muito será feito. Mas às vezes é importante não fazer nada. Sente-se aqui comigo, diante das estrelas. Podemos ser os dois, perfeitamente incapazes, diante destas águas? Não, não há nada de errado nisso. Em deixar-se apenas flutuar. Respirar, sem tencionar nada além. Meditar, sem pretensões de atingir o nirvana. Há que deixar-se ser atropelado por esta frente de emoções, sem protestar. Apenas sobrevivendo, tão simplesmente, sobrevivendo.

Afinal de contas, nenhum humano quer morrer, não é verdade? Mas de nada vale lavar tantas vezes as mãos, se não lavar e tirar os vírus da alma (e acreditem, haverá um dia em que as almas vão durar). Que se evaporem todos os egoísmos e exclusões, e se conjuguem todos os verbos e sinónimos do bem-querer.

– Mãe…! Oh, mãe…! Depois da morte, para onde vamos? Fazemos mesmo a transição para a tua casa, reino Stefanotis?

Pronto. Eis um pensamento que não me apetece ruminar esta noite. Will, todo sorumbático, lança-nos um olhar curioso e ajeita a régua sobre a planta, observando-me lidar com os questionamentos da filha.

– Não vais morrer, meu anjo, não tens de pensar nisso.

Érica franze os lábios. A frustração prevalece no seu terno olhar.

– Então até quando ficaremos fechados aqui dentro? Tenho saudades da escola, dos meus amigos.

Pobre Érica. Humanos não são humanos, sem outros humanos.

Não acreditem muito nas promessas de que o vosso planeta vai mudar. Já vos conheço tempo o suficiente para saber isso. Todavia, algumas coisas serão diferentes. O conceito de fronteiras resistirá, embora vocês passem a perceber que na verdade, elas não existem. Assistirei a minha filha ir ao cinema com os amigos, pelas plataformas da internet. E quando tudo isto passar, os seres humanos terão descoberto outras formas de amar. Mais do que hoje são capazes. E para que perpetue na consciência esta dura marca, será instituído um feriado, um dia por ano, para as pessoas ficarem em casa, reconectadas com o Universo.

– Não é só por ti que tens que ficar em casa, meu amor. É pelos teus amigos também, de quem tanto gostas. E olha que nem todos os seres humanos têm essa possibilidade. Há pessoas que tem que ir à rua, para cuidar das outras. Há quem tem que ir à rua, para poder sobreviver. Temos que ser responsáveis, pensar nessas pessoas, pensar em ajudarmo-nos e cuidarmo-nos, sempre. Vai lá ao WhatsApp, liga aos teus amigos, diz-lhes que tens saudades. Eles vão gostar de saber.

Os olhos dela cintilam, enquanto mete os auriculares aos ouvidos e agarra-se ao telemóvel.

– Ok, mamã.

Ah, minha pequena humana. Que nunca te esqueças, nunca desaprendas, a tocar as cordas destes grandes instrumentos musicais. A solidariedade e a amizade, universais em qualquer trilha da vida.

Will finalmente pousa as plantas e a régua, arrastando-se de seguida para o quarto. Está derrotado. Este ser humano não sabe abrandar. São muito afiadas as garras da angústia que cravaram a sua pele. As propinas da Érica, os deadlines da empresa, a dispensa vazia, os cuidados para não contaminar ninguém depois que volta da rua, a minha gravidez de risco, a falta de ciência sobre o assunto, o medo de perder a família. Will mergulhou, enfim, em profundo estado de ansiedade. O que eu devia ter percebido, porém, é que o seu ar abatido devia-se à outra coisa. O elemento que o atormentava era bem mais elevado do que a simples ansiedade. Era algo assustadoramente extraordinário, frio como a solidão. Apavorante, para dizer a verdade.

Desabafo de uma qawwi

#31|Milagre a dois

No planeta dos seres humanos há várias teorias sobre os pesadelos. Esta espécie de delírio que penetra o nosso subconsciente durante o sono, arrancando-nos graves suspiros de medo. Há quem diga que os pesadelos evoluíram para tornar os humanos mais alerta sobre possíveis ameaças. Outros, que este tipo de alucinação não passa de uma reacção a algum estímulo exterior. É um fenómeno, que, enfim, extravasa todas estas tentativas de entendimento. Mas o que descobri, recentemente, parece incontestável: de alguma forma, os pesadelos preparam-nos para o futuro.

Naquela noite, Will levantou-se com o coração descompassado, o peito molhado e os dentes apertados de tanto pânico. As estrelas pareciam derreter nos seus olhos aflitos. Amparei-o, tentando acamá-lo.

– Will? Tiveste um pesadelo?

– Acho que sim, não lembro… abraça-me, Linan – pediu depressa, buscando conforto no meu corpo, querendo-me com o desejo de um alcoólatra que procura o seu alento numa garrafa.

Sim, tivera um pesadelo. Mas qual era o alerta que o seu instinto tentava activar?

Beijei-o até o alvorecer. Normalmente o beijo conseguia sarar onde mais doía. E disso era feita a nossa rotina diária, após aquele tempo todo separados. Quando um estivesse em apuros e não pudesse chegar lá, o outro carregava. Nem que fosse nas costas mancas e nuas. Compreensão, e sobretudo, cumplicidade. Era o que precisávamos. E éramos felizes, mesmo quando surgissem pedras. Só que um dia tropeçamos. Afinal, o que era certeza, também sabia ser angústia, construindo por fim o início da queda.

– Deve ser uma comida que não caiu bem, ou estás doente outra vez – constatou Will preocupado, ao ver-me vomitar já pela segunda vez naquela semana. Não quis ao ir médico. O meu gigante apetite andava ampliado, por isso julguei que fosse apenas uma indigestão. Mas as náuseas repetiram-se. Quando veio o torpor, a sensação do estômago queimado e por fim o sangue escuro vertendo de dentro de mim, aceitei ir ao hospital.

Alguns exames terráqueos depois, tive o diagnóstico. Nunca, em hipótese alguma, havíamos previsto a notícia:

– A senhorita está grávida. E vai precisar de alguns cuidados… – avançou a doutora, sem pudores.

É assim meus amigos, sabem que muitas vezes perdi-me, durante esta aprendizagem, de ser humana. Nunca como naquele instante. Deixei de ouvir a médica. Apertei a mão de Will, como se o gesto fosse tapar o abismo que se abria entre nós, deixando espreitar segredos e temores que se empilhavam à superfície, ameaçando rebentar as amarras que uniam a nossa confiança.

– Tem a certeza, doutora? – a voz de Will estava por um fio.

– Sem sombra de dúvidas. Já conta com dois meses.

A elucidação da médica arrepiou-me. Não havia preparo para aquilo. Eu não queria ser mãe, nem pensar. Não num mundo que tenho por certo estar à beira do fim.

Por outro lado, percebi que a alma de Will havia ficado engasgada. Como se, de repente, um cavalo se atrelasse às suas costas. Não sabia se era um milagre ou uma maldição. Se se permitia vibrar ou se procurava perdão para o assassino dentro de si, sequioso de cortar-me em duas. De dividir-me em qawwi e em humana. Pois quem sabe assim, encontrasse alguma explicação plausível para o que acabava de ouvir.

– Linan – voltou a falar quando já estávamos em casa. Custava-lhe. Como se um frio severo, desses que seca o sangue, congelasse os seus lábios – Sabes que… eu não posso ter filhos, é impossível. Será que – outra sustenida pausa – será que – e mais outra – é por seres qawwi, é pelo teu corpo, os teus poderes… é isso?

A resposta que borbulhava na minha boca preocupava-me até aos fios do cabelo.

– O meu corpo tornou-se humano. Sou uma pessoal normal como tu, Will, não tenho poderes nenhuns. Nem sei o que pensar.

O pulsar da notícia, a ausência de uma resposta, ganhou força nos contornos do rosto de Will. A pergunta continuou gritando, em silêncio. Poderia ser o derradeiro milagre? Ou a dúvida ia começar a penetrar por caminhos que julgávamos outrora veemente fechados?

Outras maravilhas humanas

12 Factos que você desconhece sobre Moçambique

4 mins – leitura

Quem acompanhou o episódio de estreia do “desabafo de uma qawwi” aqui no blog, sabe que Moçambique foi o primeiro lugar onde a nossa qawwi aterrou. O país está localizado no Sudeste de África e é banhado pelo oceano índico. Fala-se dele. Muito e pouco. Coisas boas. Outras nem tanto. Mas hoje, reunimos factos e curiosidades, que provavelmente você não saiba sobre este país. E se sabe, vale a pena revê-los 🙂

Iniciemos então o ranking do nosso top 12 de hoje?

12 – Joana Balaguer morou em Moçambique

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Alguém lembra-se da Jacqueline de malhação (temporada de 2005)? Em determinada altura, a ex-actriz de malhação morou em Maputo, capital de Moçambique. O artigo abaixo descreve a rotina dela durante essa época e as impressões que teve.

 

 

 

Imagem via revista Ego

http://ego.globo.com/gravidez/noticia/2014/02/morando-na-africa-joana-balaguer-fala-sobre-carreira-nao-larguei-nada.html

11- A primeira dama de Cabo Verde é Moçambicana

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Imagem via WACC

Chama-se Lígia Fonseca e nasceu em Moçambique, na cidade da Beira, a 24 de Agosto de 1963

10 – A primeira e única pessoa no mundo a ser primeira dama de dois países diferentes é moçambicana

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Imagem via Raymond Suttner

Graça Simbine Machel, política e activista dos direitos humanos, foi a primeira-dama de Moçambique, quando casou-se com Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique, morto em 1986 e foi a primeira dama da África do Sul, quando casou-se com Nelson Mandela, em 1998, o primeiro presidente negro da África do Sul, falecido em 2013. Pelos casamentos, segundo o Guinnes Book, Graça Machel tornou-se a única pessoa no mundo a ser primeira-dama de dois países diferentes.

http://www.guinnessworldrecords.com/world-records/first-female-to-be-first-lady-of-more-than-one-country/

9 – Tema de músico moçambicano fez parte da trilha sonora de “The Pledge”

O tema “Nwahulwana” do músico Wazimbo é mundialmente conhecido. Entre outras razões, o mesmo foi escolhido para fazer parte da trilha sonora do filme americano “The Pledge” (A Promessa), de 2001. Veja a cena onde corre a música:

8 – Beyoncé é fã dos Tofo Tofo

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Parece um fairytale. A cantora norte americana Beyoncé viu no youtube a dança dos Tofo Tofo e ficou deslumbrada. Jurou para si mesma que tinha de ter aquela coreografia no videoclip de “who runs the world”. Custasse o que custasse. Para isso, mandou chamar os melhores coreógrafos do país, mas nenhum deles foi capaz de reproduzir a mágica coreografia. Sem grandes opções, colocou a sua equipe em busca dos Tofo Tofo, e por fim encontrou-os. Em Moçambique.

 “What’s your name?” – perguntaram eles à anfitriã, quando chegaram aos Estados Unidos.

 “I’m Beyonce” – respondeu simpática, a estrela do R&B.

 “My English is bad, but my will is good”[1] – foi um dos comentários do representante dos dançarinos que levou os internautas ao rubro. Não é para menos, é muito talento e muita graça!

 Confira a história neste vídeo.

https://www.youtube.com/watch?v=UEdFczGMo98

[1] O meu inglês é mau, mas a minha intenção é boa.

7 – Moçambique mencionado em musical da Broadway

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Imagem via Trib.com

Trata-se de “the Addam’s Family”, um maravilhoso musical da Broadway, estreado em 2010, que conta a história da família mais esquisita de todos os tempos. Um dos temas do musical, intitulado “Crazier Than You”, tem algo bastante interessante na letra. Provavelmente mais para fins estéticos e de rima, mas mesmo assim, não é todos os dias que o nome do país escala à Broadway.

“I wanna climb Mt. Everest go to Mozambique”[1] canta o personagem Lucas à namorada Wednesday, num palco repleto de estrelas, luas e mãos que se movem sozinhas. Querido Lucas, nós também queremos!

 Confira a música aqui:

[1] Quero escalar o monte Everest, ir à Moçambique.

6 – Moçambique serve de cenários para vários sucessos de bilheteria de Hollywood

Filmes como “Ali” (Will Smith), “A Intérprete” (Nicole Kidman) e Blood Diamonds (Leonardo Dicaprio) tiveram cenas filmadas em Moçambique. Aliás, os actores protagonistas não são as únicas celebridades da TV que visitaram o país. Reinaldo Gianecchini, Alexandre Borges, Priscila Fantin e Bruno Lopes, actores brasileiros, também estiveram muito recentemente em Moçambique.

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Imagem via Sapo

5 – Cineasta moçambicano foi nomeado júri nos Óscares

CINEASTAMOCAMBICANOEMHOLLYWOODImagem via jornal o país

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pela atribuição das estatuetas Óscar, convidou este ano (2018) o cineasta moçambicano, Pedro Pimenta, a ser membro do júri. Saiba mais no artigo abaixo.

http://opais.sapo.mz/cineasta-mocambicano-pedro-pimenta-na-academia-de-hollywood

4 – Anantara Medjumbe Island Resort – hotel de ilha mais bonito do mundo

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Imagem via CNN Travel

E por falar em Leonardo Dicaprio, dizem que quando ele visita Moçambique, passa férias numa ilha discreta, sem que ninguém se sequer se aperceba. Verdade ou não, o facto é que algumas praias do país são simplesmente espetaculares. O resort de uma das ilhas do arquipélago das Quirimbas, no norte do país, foi listado em 2º lugar, no top 15 da CNN, de resorts de praias mais bonitos do mundo! Confira as restantes ilhas no artigo abaixo.

https://edition.cnn.com/travel/article/most-beautiful-island-hotels/index.html

3 – Galinha a zambeziana em 12º lugar na lista das melhores comidas do mundo

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Imagem via CNN Travel

Pois é, um dos melhores pratos do mundo, segundo a CNN, é o moçambicano frango à zambeziana. Para ver as outras comidas, confira o artigo abaixo.

https://edition.cnn.com/travel/article/world-best-food-dishes/index.html

2 – Moçambique tem a maior ponte suspensa de África

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Imagem via Sicnoticias

A ponte inaugurou no último sábado (10 de Novembro de 2018) e é actualmente a maior ponte suspensa do continente africano.

https://pt.euronews.com/2018/11/09/mocambique-inaugura-maior-ponte-suspensa-de-africa

https://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2018-11-09-Maior-ponte-suspensa-de-Africa-vai-ser-inaugurada-em-Maputo

1 – Floresta virgem

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Imagem via Jornal Notícias

Já imaginaram um lugar, nos dias de hoje, inexplorado e intacto pelos humanos? Esse lugar existe. Trata-se de uma floresta virgem, encontrada este ano (2018) por cientistas e pesquisadores. A floresta está escondida no topo do monte Lico, na Zambézia, província de Moçambique e foi descoberta pelo professor Julian Baylis, da Universidade de Oxford, através do Google Earth.

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Imagem via The Guardian

Mais detalhes nos links abaixo:

http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/tecnologias/78816-cientistas-descobrem-floresta-virgem-na-provincia-da-zambezia

https://www.theguardian.com/world/2018/jun/17/mozambique-mount-lico-rainforest-new-species

Então? Alguém está a pensar em visitar Moçambique? Sabem de outros factos e curiosidades que deviam estar aqui? Deixem os vossos comentários e não se esqueçam de seguir-nos no facebook: https://www.facebook.com/qawwi.reviews

Desabafo de uma qawwi

#3| Os rapazes da fraternidade

A luz de um abajur perfurou-me a retina quando abri os olhos. Na cabeceira, a moldura de um retrato. Rolei pela cama, em busca de aconchego, e foi então que apanhei um susto de morte.

– Acordado, meu amor?

Pus-me em pé, num pulo. As pernas, de repente, estavam muito musculosas. Todavia, o mais preocupante era aquela situação. Uma humana, feminina, a chamar-me “meu amor”? O que diria o meu amado qawwi, se me visse agora, através de um satélite fónico? Para agravar os nervos, disparou pelo quarto uma ligeira e monocórdica melodia.

– Calma meu amor, é só o teu celular… atende.

Procurei o aparelho com urgência, como se dependesse do mesmo, a minha integridade. Encontrei-o encafuado entre as almofadas da cama.

– Alô?

– Até que enfim, Diego! Estavas a flutuar em cima de alguém, ou o quê?

– Hã? – o meu cérebro deu um nó – em cima? O que acontece com a gravidade?

Em resposta, gargalhadas.

– Deixa-te de tretas, bro! Já estamos perto daí. Podes descer?

A humana veio enroscar-se no meu pescoço, toda semi-nua. Tal obrigou-me a agarrar-me ao celular como se fosse uma bóia de salvação.

– Sim, estou a descer, até já! – vestida apenas da cintura para baixo, abandonei o quarto. A humana veio atrás, gritando-me coisas que não fiz questão de perceber.

– Vista mas é uma roupa, criatura! – implorei antes de embrenhar-me na fuga até alcançar a saída do edifício.

Na rua, um elegante jovem observou-me cima abaixo e gritou para quatro outros dentro de uma viatura:

– O nosso bro já está bem pedrado! Vens ou não?

Notei que os quatro dentro do carro, eram os mesmos da moldura na cabeceira. Decidi entrar e pedi-lhes que voássemos para longe, antes que a humana ressurgisse para capturar-me.

– A fugir da Vanessa, bro? – questionou um deles, engasgando-se de rir – ela é das moças mais cobiçadas pela nossa fraternidade, sabias? Hey Pete, passa lá um casaco antes que o nosso bro fique constipado.

Enquanto cobria o tronco, olhei-me num espelho. Afinal, eu também era um dos jovens da moldura! Era membro de uma “fraternidade”, e tinha Peter, Simon, Jamal e Noah, como “melhores amigos”.

Estacionamos num local escuro cheio de gente, poluído de luzes psicadélicas, e música muito alta. Havia tanta fumaça, que era quase impossível respirar. Um copo cheio de álcool na mão, parecia naquele ambiente, uma questão de sobrevivência.

– Olá, trago aqui uma preciosidade – disse-me alguém, cutucando-me nas costas – Só 50.

Pronto, lá estava a linguagem dos números.

– 50? Você está a tentar vender-me algo?

– É coisa das boas! Uma pedrinha, por exemplo, e garanto-te que terás a melhor experiência da tua vida!

Curiosa, tentei desvendar a oferta, mas não foi preciso nem sequer experimentar, para o meu radar de qawwi detectar o perigo. Aquilo iria causar-me um severo dano ao corpo. Experiência maravilhosa? No meu planeta experiência maravilhosa é saltar galáxias. Que raio de boa experiência é essa, que promove a automutilação? Mas afinal, o que se passa neste planeta?

– Diga-me algo, senhor, você já experimentou essa tal maravilha? – o silêncio dele confirmou o que eu temia: o sujeito estava a vender-me um mundo, que nem ele próprio tinha.

Entretanto, Simon chegou e aceitou a oferta.

– Não te armes, bro! – resmungou, enrolando o conteúdo num curioso aparato, que produzia fumo expelido pelas vias respiratórias – Estou a divertir-me, como todos os outros!

Fiquei especado, o choque assombrando-me o rosto.

– Bro – continuou Simon, expelindo mais fumo das narinas – conheço-te desde criança, muito antes da fraternidade. És um chato de nascença, nem sei como és o meu melhor bro, mas hoje, tu não estás em ti! Conta lá, o que é que se passa?

Fomos interrompidos por repentinos gritos, seguidos de total algazarra. Polícias terráqueos haviam invadido o recinto. Embora eu desconhecesse o crime que tinha cometido, percebi que estava em sérios apuros, e nem sequer podia teletransportar-me, já que estava fora do meu corpo de qawwi.

– Bro, bro fica tranquilo, vai dar tudo certo – murmurou Simon assustado, quando a polícia começou a revistar-nos. Tentou desculpar-se, porém, os homens da lei não ficaram satisfeitos com o que encontraram nos seus bolsos.

– Membros da fraternidade ómega à direita, hein? Vocês podiam ter um futuro brilhante, sabiam? Mas talvez as barras da cela ajudem a dar uma refrescada nestes cérebros, não é? Rob, recolhe todos eles!

– Sr. agente, ele não. – suplicou Simon debatendo-se quando um policial capturou-me – O Diego não fez nada, é um palerma, mas é bom rapaz. Não há nada com ele, podem ver, deixem-no ir, por favor!

Depois de uma forte revistadela e talvez convencidos pelo apelo de Simon, eles largaram-me.

– Fica tranquilo bro, eu eide safar-me! E sei que tu estás comigo, bro! – balbuciava Simon, enquanto era conduzido para onde a liberdade passaria a ser uma quimera. Havia algo no olhar de Simon, além do medo, disfarçado de coragem. Acabei por experimentar uma esquisita melancolia, pois o último acto de Simon colhera-me de supresa. Ele gostava de mim. Aquilo que eu vislumbrara nos olhos dele, era o verdadeiro sentido da “fraternidade”. Afinal, havia um sentimento tão bonito como aquele entre os humanos?

– Estou contigo, bro! – devolvi, sentindo umas gotas quentes entre as pálpebras. – estou contigo e vou ajudar-te!

Linan

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Crédito imagem: http://blog.trashness.com/prep-boys-on-a-mission

Desabafo de uma qawwi

#3 | A síncope – o momento em que descobri que sou infiel

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Ao final de sexta-feira tive uma síncope. O beijo foi o gatilho, mas a causa maior residia no lento acumular de incongruências que estava a testemunhar nos últimos dias. Cheguei à terra faz pouco tempo, e quanto mais analiso, menos sentido encontro neste planeta. O uso excessivo de carros, por exemplo. É um paradoxo que escangalha-me o cérebro. Além de agravarem o sedentarismo, estas máquinas são altamente poluentes. Sempre ouvi dizer que a poluição inquieta os humanos. Pela quantidade de veículos que prolifera pelas estradas, eu diria que essa preocupação é tão grande como o dedão do meu pé de qawwi. Seria exagero concluir que os humanos são vítimas intencionais de si mesmos?

– Pára de reclamar, mãe! Hoje em dia não se faz nada sem um carro – explicou-me uma das minhas filhas. – além do mais, ter um bom carro é uma questão de status.

Status?

– Sim, mãe, status!

– Ah, status. – cocei a cabeça – Faz sentido.

Tinha que disfarçar, mas claro que não fazia sentido. No princípio, cheguei a pensar que o tal “status” fosse uma comida. É um conceito de difícil compreensão e na verdade, sigo sem entendê-lo. Será que significa vestir trapos feios, só porque são caros? Estar cercada de bens inúteis e sorrir como num outdoor terráqueo? Ou pior, costurar o rosto para mascarar as pegadas do tempo? Para mim isso tudo não passa de esquisitice. Ou então a minha inteligência qawwiana reduziu drasticamente com a viagem. Só pode.

– Mãe! O que se passa contigo? Nem pareces tu a falar! Sempre adoraste o teu mercedes e as plásticas que te rejuvenescem, qual é o problema agora?

A minha pretensa filha tinha razão. Mas ela não fazia ideia de que a figura diante de si não era a sua verdadeira mãe. Nem sequer era um ser humano. Era um ser alienígena, vindo de outro planeta, camuflado na mãe.

Para poder seguir a minha missão pela terra sem ser notada, principalmente depois da desastrosa aterragem em Maputo, teletransportei-me para dentro de um humano, em busca de um disfarce. Acabei assim no corpo e na identidade desta mulher. Nestes últimos dias, tenho sido esposa de um “empresário”, mãe de três “adolescentes”, “dona de casa”, com uma família cheia de “status”.

A minha filha lançou-me um olhar desdenhoso, pegou no telemóvel e foi perder-se pelas avenidas da cidade. Para quem nunca ouviu falar, o telemóvel é um dispositivo de comunicação que… não, esperem. Na verdade, o telemóvel é um órgão humano externo. Tão vital quanto os pulmões. Se quiserem causar um colapso à um humano, é só experimentarem arrancar-lhe o telemóvel. Difícil de imaginar, eu sei, mas já explico: enquanto no nosso planeta somos servidos pelas máquinas, aqui na terra elas é que são servidas pelos humanos. As máquinas escravizaram tanto os humanos, que até nos ritos sociais de confraternização, os humanos já não convivem. Apenas os telemóveis. Os humanos estão reduzidos à uma alarmante apatia. Mais recordam os zumbis do apocalipse tecnológico.

– Com licença, minha senhora – murmurou uma voz masculina, arrancando-me dos atribulados devaneios. Era o motorista lá de casa.

– Sim? Algum problema? – perguntei, vendo que o homem difundia aflitivamente a sua atenção para todos os cantos da luxuosa sala. Assim que percebeu que estávamos a sós, capturou-me e meteu os seus lábios carnívoros em cima dos meus. O meu peito trovejou de perplexidade e de nojo.

– Que raio está o senhor a fazer?

– Saudades tuas, meu docinho de coco.

– Docinho de coco? – a voz estava-me presa de pânico – eu sou casada, o senhor não sabe o que isso significa?!

– Ah meu docinho! Desde quando tal foi obstáculo para as nossas escapadelas? – Sussurrou com malícia, seus lábios feios e vingativos continuando a invadir a minha boca.

Foi nesse momento que me deu a síncope e perdi os sentidos, caindo no elegante tapete vermelho.

O planeta terra é um lugar cheio de regras. Uma delas, por exemplo, é que o casamento é um instituto sagrado, que obriga à estrita fidelidade entre duas pessoas. Talvez a dona deste corpo tenha um defeito de fabrico. Sim, é isso! Ela é um caso raro de avaria! Já imaginaram se de repente houvesse muitos humanos com uma disfunção assim? Não quero nem pensar.

@Linan